A suspensão da dispensa de participar na missa de domingo, após o final do confinamento obrigatório decretado pelas autoridades civis, não estará a ser suficiente para convencer todos os católicos que antes da pandemia iam à missa aos domingos a regressar às celebrações nas igrejas, pelo que algumas dioceses e paróquias estão a implementar medidas para levar as pessoas de volta às assembleias.
«Apenas abrir as nossas portas e esperar que as pessoas venham é uma estratégia falhada há gerações, e na cultura de hoje ainda mais», considera o fundador e presidente da instituição norte-americana Catholic Missionary Disciples (Discípulos Missionários Católicos), Marcel LeJeune.
Segundo uma sondagem do Instituto de Liderança Católica baseada em 300 mil paroquianos de 43 dioceses dos EUA, entre 25 e 27% dos católicos que vão à missa dizem que o fazem «por hábito», enquanto 4 a 6% autodenominam-se «católicos apenas no nome».
Se durante ano e meio, o tempo do confinamento nos EUA, foi interrompido o «hábito» de ir à missa, «eu diria que essas pessoas não vão voltar se as paróquias não tomarem cuidado», observou o presidente do Instituto, que questionou: se essas pessoas ficaram 18 meses sem a sua paróquia e não sentiram falta dela, por que voltariam?
Dan Cellucci está convicto de que as paróquias que não fizeram nada para se manter em contacto com os seus paroquianos estão «em risco» de assistir a uma queda na participação e envolvimento dos fiéis nas suas atividades, litúrgicas ou outras.
De acordo com a sua experiência, que se limita aos EUA, o responsável assinala que as paróquias que têm mantido os seus membros, ou até aumentado, «são as que realmente se relacionaram» com as pessoas: «Estabeleceram um vínculo profundo com a comunidade e esforçam-se muito nisso. Contactam com os seus paroquianos, fazem convites – tudo marcas do que sabemos serem práticas de boa evangelização».
Mas os fiéis não deviam voltar por motivação própria, sem necessidade deste acompanhamento e incentivo? «Teoricamente, sim, por causa da “obrigação” dominical, mas essa não é a nossa mentalidade, e temos de o reconhecer», afirmou Dan Cellucci.
«Quando as igrejas foram fechadas, as pessoas abandonaram a prática do ritual social de ir à missa no domingo» - de novo a questão do “hábito” -, constatou Michael McCallion, professor de teologia na arquidiocese de Detroit.
Ora, especialmente nas pessoas cujas convicções de fé não são sólidas, «essa prática poderá não continuar», até porque, «na sociologia da conversão, a crença segue o comportamento. Se o comportamento desaparece, a fé também se desvanecerá», apontou.
O docente sustenta que, «mais do que nunca», o que a Igreja precisa de fazer é incrementar a «hospitalidade e convidar as pessoas a ficar». E lança um aviso: «Não podemos continuar à espera das pessoas; precisamos de sair e ir ao seu encontro».
Para McCallion, «cada paróquia deve ter uma equipa dedicada a um radical ministério da hospitalidade», com a organização de eventos «todas as semanas, não todos os meses».
A arquidiocese de Detroit preparou uma espécie de guião com sugestões práticas, como missivas de convite e de boas-vindas a enviar aos paroquianos: «Uma carta do pastor é uma das mensagens mais essenciais a partilhar com a comunidade paroquial».
Este dinamismo tem envolvido fiéis na organização de iniciativas que, além das celebrações, estimulem a comunidade a voltar a congregar-se, nomeadamente os seus membros mais novos, porque muitos jovens não têm regressado à igreja tão depressa como as pessoas mais idosas.
Uma sondagem do Centro para a Pesquisa Aplicada no Apostolado, organizada em setembro de 2020, reportou que mais de um terço dos católicos entre os 18 e os 35 anos estava a pensar ir menos vezes à missa quando o confinamento fosse levantado.
«Quando se trata da participação na missa, precisamos de perguntar onde é que as pessoas estavam em termos da sua compreensão dos sacramentos antes da pandemia. Será que têm uma compreensão de como os sacramentos alimentam a fé e, portanto, fazem parte da rotina de alimentarem a sua fé? Se não compreendem a Eucaristia, por que haveriam de voltar?», interroga o diretor da Escola Bíblica Católica do Michigan, Tamra Fromm.