O diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura considera que Eduardo Lourenço, distinguido esta sexta-feira pela Igreja católica com o Prémio Árvore da Vida-Padre Manuel Antunes, é um «arauto, paladino e mestre de um novo paradigma sociocultural de íntima liberdade pensante e imaginante».
No primeiro de três artigos dedicados ao ensaísta, José Carlos Seabra Pereira, antigo presidente do Centro Académico de Democracia Cristã (CADC) e primeiro proponente da candidatura ao Prémio 2020, sublinha que num autor como Eduardo Lourenço, «dotado de excecionais faculdades de inteligência e de intuição, de generosa lucidez e de sedução discursiva, cultivado num inesgotável universo de referências e de interlocuções culturais, o ensaio culmina em prática artística».
O texto “O fascínio irónico da Verdade” (cf. artigos relacionados) salienta que «além dos vetores fenomenológicos e hermenêuticos» da filosofia da Cultura, e da sua análise, «a um tempo mítica e situada, da cultura europeia e da cultura portuguesa», prevalece em Eduardo Lourenço «uma metafísica da interrogação».
O redator do voto subscrito unanimemente pelos membros do Júri destaca que Eduardo Lourenço é um pensador «indefetível da inquietação metafísica, inconformado com os grandes silêncios culturais “onde ninguém nos interroga e onde nós não interrogamos ninguém”, tanto quanto com os simulacros professorais de interrogação em que o Sujeito não se põe em causa».
«Eduardo Lourenço recoloca esse Sujeito numa dinâmica de fragmentação ôntica, de perspetivismo cognitivo e de ironia discursiva que, se não supera a sua crise, reconverte a sua nostalgia de Transcendência», conclui José Carlos Seabra Pereira.