«Vinde, retiremo-nos e repousai um pouco» (Marcos 6, 30-34). Os seus tinham regressado felizes daquele envio dois a dois, daquela missão em que Ele os tinha lançado, uma peregrinação de Palavra e pobreza.
Os doze encontraram muita gente, empregaram a arte que tinham aprendido de Jesus: a arte da proximidade e da carícia, da cura dos demónios do viver. Agora é o tempo do encontro com eles próprios, de voltarem a ligar-se àquilo que acontece no seu espaço vital.
Há um tempo para cada coisa, diz o sábio de Israel, um tempo para agir e um tempo para a interrogação sobre os motivos do agir. Um tempo para ir de casa em casa e um tempo para ficar em casa entre amigos e consigo próprios.
Há tanto a fazer em Israel, doentes, leprosos, viúvas de Naim, lágrimas, todavia Jesus, em vez de arremessar os seus discípulos para dentro do vórtice da dor e da fome, leva-os consigo e ensina-lhes uma sabedoria do viver.
Vivemos hoje numa cultura em que o rendimento que tem de crescer e a produtividade que deve estar sempre a aumentar nos convenceram que são os compromissos que dão valor à vida. Jesus ensina-nos que a vida vale independentemente dos nossos compromissos.
O fluxo imparável das pessoas chega-lhes inclusive àquele lugar afastado para onde Jesus e os seus se afastaram. E Jesus, em vez de dar prioridade ao seu programa, dá-a às pessoas. O motivo é dito em duas palavras: experimenta compaixão. Termo de uma carga belíssima, infinita, termo que faz apelo às entranhas e indica um espasmo interior.
A primeira reação de Jesus: experimenta dor pela dor do mundo. E põe-se a ensinar muitas coisas. Talvez houvesse, diríamos nós, problemas mais urgentes para a multidão: curar, matar a fome, libertar; necessidades mais imediatas do que ouvir ensinamentos.
Talvez tenhamos esquecido que há uma vida profunda em nós que continuamos a mortificar, a deixar à fome e à sede. É a esta que Jesus se dirige, como uma mão-cheia de luz lançada ao coração de cada pessoa, iluminando-lhe o caminho.
Este Jesus que se põe à disposição, que não se poupa, que deixa que sejam os outros a ditarem-lhe a agenda, generoso de sentimentos, entrega algo de grande à multidão: «Pode dar-se o pão, é verdade, mas quem recebe o pão pode não ter necessidade extrema dele. Mas de um gesto de afeto todo o coração exausto precisa. E cada coração está exausto» (Ir. Maria di Campello).
É o grande ensinamento aos doze: aprender um olhar que tenha comoção e ternura. As palavras nascerão. E isto vale para cada um de nós: quando aprendes a compaixão, quando reencontras a capacidade de te comover, o mundo aninha-se na tua alma, e tornamo-nos um só rio. Se ainda há quem saiba, entre nós, comover-se pelo ser humano, este mundo ainda pode esperar.