O anúncio do Evangelho viaja na Índia com o teatro de rua, uma forma de arte apreciada por pessoas de todas as classes sociais e que consegue atrair as atenções e os corações de muitos. Esta é a experiência missionária de Stanley Kozhichira, padre nativo do estado de Kerala e que trabalha na arquidiocese de Deli. Desde os primeiros anos de formação interessou-se e cultivou uma intensa paixão pela produção e encenação de obras teatrais inspiradas no Evangelho, nas vidas de santos, em histórias de fé antigas e modernas.
O teatro e a Índia têm uma relação que remonta à cinco mil anos. A primeira forma cénica foi o teatro sânscrito: o “Natya Shastra” de Bharata foi um dos primeiros espetáculos encenados no país. A forma que se pode identificar com o estilo teatral ocidental foi introduzida na Índia só no final do século XVIII, com o Império Britânico. Desde então a fusão da cultura ocidental com a antiga tradição indiana deu vida às obras do teatro indiano moderno, que se tornou um meio de entretenimento muito querido do público.
Esta tradição foi a base para a ideia do P. Stanley de criar uma forma de “inculturação missionária” da fé: ao mesmo tempo que se aplicava nos estudos de comunicação pastoral e sociologia, o sacerdote dedicou-se com entusiasmo à produção teatral como meio de evangelização.
Em mais de trinta anos de trabalho missionário, o P. Stanley escreveu e dirigiu mais de cento e dez espetáculos, empenhando-se em particular no “teatro de rua”, através do qual também conduziu laboratórios dedicados aos jovens, colocando ao serviço as suas qualidades e competências como realizador, encenador e produtor.
Entre as obras que mais convenceram o público está “Ars ke Krantikari”, drama baseado na vida de S. João Maria Vianney. Idealizado e encenado em 2012, valeu-lhe um prestigiado reconhecimento artístico indiano.
Este trabalho depressa chamou a atenção do Departamento para as Comunicações Sociais da arquidiocese de Deli, que o envolveu nos meios de comunicação diocesanos, ao passo que a Signis, associação mundial dos comunicadores católicas, o nomeou primeiro diretor nacional para a Índia e, desde 2022, diretor da secção continental asiática.
Todavia, ainda que a Igreja diocesana o tenha envolvido na complexa e crucial obra de evangelização através dos meios de comunicação social, o seu primeiro amor continua a ser o teatro de rua. E assim o P. Stanley, logo que pode, continua a andar por cidades e vilas, representando obras sobre o nascimento de Cristo, musicais como “Luz de amor” e outro dedicado a “Nossa Senhora de Fátima”.
Muito apreciados são os dramas sobre a vida de S. Francisco de Assis e de S. Paulo, assim como espetáculos em torno a valores essenciais, como “Rise”, centrado na educação, ou “Os nós”, relativos a questões relacionadas com a vida da família, ou, ainda, “A morada do amor”, inspirado na parábola evangélica do filho pródigo.
«Como o papa Francisco disse, os homens e as mulheres de hoje têm necessidade de respirar a verdade das histórias boas, histórias que edificam, histórias que ajudam a reencontrar as raízes e a força para juntos seguir em frente. No mundo de hoje, marcado pela confusão de vozes e de mensagens, tomar contacto com histórias boas muda a perspetiva», argumenta o sacerdote.
«A representação teatral ajuda-nos a olhar o mundo com ternura, narra o nosso ser como parte de um tecido vivo, revela que estamos ligados uns aos outros», acrescenta. Depois de sublinhar que as narrações marcam a história pessoal, plasmam convicções e comportamentos, o P. Stanley assinala que «as histórias que narram como o Evangelho deu fruto na vida dos santos, como na vida de homens e mulheres de ontem e de hoje, são um canal extraordinário de missão».
O sacerdote explica com estas palavras a inspiração principal da sua obra missionária: «A Bíblia é uma história de histórias, é uma mina inesgotável de histórias que apresenta as vicissitudes de povos e pessoas em relação com Deus. Deus é criador e ao mesmo tempo narrador: é a Palavra e cria com a sua Palavra. A Bíblia é a grande história de amor entre Deus e a humanidade, que tem Jesus Cristo no centro».
Tudo isto traduz-se, no ministério do P. Stanley, no compromisso imparável de escrever e levar à cena – com a sua peculiar obra de teatro de rua que convoca elementos culturais e musicais indianos e ocidentais – histórias de fé que resultam sempre atuais, porque «mostram que Deus tem no seu coração a nossa história, ao ponto de fazer-se homem».
Estas histórias, conclui o sacerdote, «atraem hoje a Deus os corações de muitas pessoas, jovens e velhos, pobres e ricos. Então podemos dar razão da nossa fé e da nossa esperança».