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Exposição

Fernando Pessoa, plural como o universo

“Fernando Pessoa, Plural como o Universo” é o título da exposição que a Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, apresenta até 29 de abril.

A mostra que inclui poemas, textos, documentos, fotografias e pinturas, convida o visitante a ler, ver, sentir e ouvir a obra do autor e dos seus heterónimos.

A entrada é reservada à apresentação do ortónimo e dos quatro mais importantes heterónimos: Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Bernardo Soares.

Um conjunto de textos ilustra a convivência do poeta com os seus heterónimos, bem como os projetos em que se envolveu «num processo dinâmico e simultaneamente solitário», refere o site da Gulbenkian.

Além de documentos inéditos, pinturas e objetos nunca antes expostos em Portugal, os visitantes podem ler manusear exemplares de toda a obra de Pessoa, em português e noutras línguas.

«A componente multimédia da exposição é constituída por filmes, vozes e sons, poemas ditos e páginas de livros que, com um só toque do visitante se alternam e folheiam».

A exposição, inaugurada em São Paulo em 2010 e apresentada no Rio de Janeiro no ano seguinte, resulta de uma parceria entre a Fundação Roberto Marinho (Brasil) e o Museu da Língua Portuguesa de São Paulo, com o apoio da Gulbenkian.

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Os heterónimos

Fernando Pessoa descreveu-se assim em 1935:
«Nome completo: Fernando António Nogueira Pessoa. Idade e naturalidade: nasceu em Lisboa, freguesia dos Mártires, no prédio no. 4 do largo de S. Carlos, em 13 de junho de 1888.
Filiação: filho ilegítimo de Joaquim de Seabra Pessoa e de D. Maria Madalena Pinho Nogueira. (...)
Profissão: a designação mais própria será “tradutor”, a mais exata a de “correspondente estrangeiro em casas comerciais”. O ser poeta e escritor não constitui profissão mas vocação. (...)
Educação: em virtude de, falecido seu pai em 1893, sua mãe ter casado, em 1895, em segundas núpcias, com o comandante João Miguel Rosa, cônsul de Portugal em Durban [África do Sul] (...), foi ali educado.»

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Álvaro de Campos nasceu em 15 de outubro de 1890, em Tavira, Algarve, terra da família do pai de Pessoa.
Segundo conta o poeta, este heterónimo teve «uma educação vulgar de Liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o “Opiário”. Agora está aqui em Lisboa em inatividade».
Alto para a época (1,75, dois cm mais do que Fernando Pessoa), magro e «um pouco tendente a curvar-se», Campos era um «tipo vagamente de judeu português». Bissexual assumido e muito provocador, intrometia-se no namoro do seu criador com Ofélia Queirós.

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Ricardo Reis, nascido no Porto em 19 de setembro de 1887, estudou num colégio de Jesuítas, onde aprendeu latim e se formou em medicina. Estudou grego por conta própria.
Em carta a um amigo, Pessoa informa que Reis «vive no Brasil desde 1919, pois expatriou-se espontaneamente por ser monárquico, na sequência da derrota da rebelião monárquica do Porto contra o regime republicano». Numa outra carta define-o como um «Horácio grego que escreve em português».
De facto Reis compunha odes clássicas em que mesclava o estilo do poeta latino Horácio ao do grego Anacreonte, e também assinou ensaios em defesa de um novo neopaganismo.

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Bernardo Soares, na definição de Fernando Pessoa, era um «semi-heterónimo». Comparando-se a ele, o autor afirma: «não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e a afetividade».
Ajudante de guarda-livros em Lisboa, Soares escreve sobre o seu quotidiano anónimo e, principalmente, sobre a sua vida interior.
Não sabemos onde ou quando nasceu, mas no seu “Livro do Desassossego” informa que perdeu mãe e pai na infância e que um tio o trouxe da província para Lisboa. Morava num quarto da Baixa, na mesma rua onde trabalhava, num armazém de fazendas.

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Alberto Caeiro foi venerado como mestre pelos outros heterónimos e até pelo seu criador, Fernando Pessoa. Nasceu em Lisboa em 16 de abril de 1889 mas passou a vida no campo como «guardador de rebanhos». O seu rebanho, esclareceu num poema, eram os seus pensamentos, e os seus pensamentos eram sensações.
Pouco instruído, queria ver as coisas como elas são, sem filosofia.
De estatura média, louro e de olhos azuis, parecia menos frágil do que era. Morreu tuberculoso em 1915, aos 26 anos.
Ricardo Reis, num prefácio inacabado, escreveu: «A vida de Caeiro não pode narrar-se, pois que não há nela nada de que narrar. Seus poemas são o que houve nele de vida».

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Além dos heterónimos, Fernando Pessoa criou dezenas de personalidades literárias, como Charles Robert Anon (poeta e prosador de língua inglesa), Alexander Search (poeta, contista e ensaísta de língua inglesa), Joaquim Moura Costa (poeta satírico e militante republicano), Vicente Guedes (poeta, contista e jornalista), António Mora (filósofo, sociólogo e teórico do neopaganismo), Raphael Baldaya (astrólogo e filósofo) e Barão de Teive (prosador suicida).

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A urgência dos heterónimos explicada por Fernando Pessoa

«Tive sempre, desde criança, a necessidade de aumentar o mundo com personalidades fictícias, sonhos meus rigorosamente construídos, visionados com clareza fotográfica, compreendidos por dentro das suas almas. (...)

Esta tendência não passou com a infância, desenvolveu-se na adolescência, radicou-se com o crescimento dela, tornou-se finalmente a forma natural do meu espírito. Hoje já não tenho personalidade: quanto em mim haja de humano, eu o dividi entre os autores vários de cuja obra tenho sido o executor. Sou hoje o ponto de reunião de uma pequena humanidade só minha.

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Médium, assim, de mim mesmo, todavia subsisto. Sou, porém, menos real que os outros, menos uno, menos pessoal, eminentemente influenciável por eles todos.» (Extraído de um prefácio inacabado às obras heterónimas)

 

Cronologia


1888
13 de junho: Às 15h20 nasce Fernando António Nogueira Pessoa, no Largo de S. Carlos, n.º 4, em Lisboa, filho de Joaquim de Seabra Pessoa e Maria Madalena Pinheiro Nogueira.

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1893
13 de julho: O pai morre com tuberculose

1895
26 de julho: Aos sete anos compõe os seus primeiros versos, uma quadra intitulada «À minha querida mamã»
30 de dezembro: A mãe casa-se, por procuração, com o comandante João Miguel Rosa, que desde outubro exercia o cargo de cônsul de Portugal em Durban, África do Sul.

1896
20 de janeiro: Parte com a mãe para Durban.
Março: Entra na Convent School, onde se destaca como aluno brilhante.

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1899
Abril: Entra na Durban High School.

1901
12 de maio: Escreve um poema em inglês, o mais antigo conhecido.

1902
Março: Começa a criar pequenos jornais de distribuição doméstica, onde surgem poemas assinados por dr. Pancrácio, Eduardo Lança e outros alter egos.
18 de julho: Publica o seu primeiuro poema, “Quando a dor me amargurar”, no jornal lisboeta “O Imparcial”.
Setembro: Regressa a Durban.
Outubro: Entra na Commercial School.

FotoOfélia Queirós

1903
Novembro: Ganha o Prémio Rainha Vitória, para o melhor ensaio em inglês, em concurso da Universidade do Cabo.

1904
Reentra na Durban High School, onde faz o primeiro ano de estudos universitários.
9 de julho: Publica um poema de Charles Robert Anon, que muitos consideram o primeiro dos seus heterónimos.

1905
Agosto: Regressa definitivamente a Lisboa, onde passa a viver com parentes.
Outubro: Começa a frequentar o Curso Superior de Letras, em Lisboa.

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1907
Junho: Abandona o Curso Superior de Letras.

1909
Agosto: Adquire máquinas e equipamentos e funda, nos meses seguintes, a tipografia e editora Íbis, que mal chega a funcionar.
Novembro: Deixa a casa das tias para viver sozinho.

1910
Fecha a sua tipografia e editora Íbis.

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1912
Abril: Publica na revista “A Águia”, do Porto, o primeiro de vários artigos sobre «A nova poesia portuguesa»
Outubro: O seu maior amigo, o poeta Mário de Sá-Carneiro, parte para Paris, facto que dá início à intensa correspondência entre ambos.

1914
Fevereiro: Publica na revista “A Renascença”, de Lisboa, os seus primeiros poemas de adulto, «Ó sino da minha aldeia» e «Pauis de roçarem ânsias pela minh’alma em ouro».
4 de março: Primeiro poema datado do heterónimo Alberto Caeiro.
Junho: O poema «Ode triunfal» marca o surgimento do heterónimo Álvaro de Campos.
12 de junho: Escreve as primeiras odes do heterónimo Ricardo Reis.

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1915
Surge o heterónimo António Mora, teórico do neopaganismo, movimento que reivindicava o politeísmo e a apreensão direta e objetiva da natureza.
Março: Sai o primeiro número da revista “Orpheu”, que apesar de existência efémera vai ter papel duradouro na renovação da literatura portuguesa.
Junho: Sai “Orpheu” 2, com «Chuva oblíqua», de Pessoa, e "Ode marítima", de Campos.
Setembro: Entrega a primeira de seis traduções, publicadas em 1915-16, de obras de teosofia.
Dezembro: Cria Raphael Baldaya, heterónimo astrólogo.

FotoFernando Pessoa com o escritor Costa Brochado, na sua mesa habitual no café "Martinho da Arcada", em Lisboa

1916
Março: Produz os «escritos automáticos», supostamente ditados por espíritos.
26 de abril: Mário de Sá-Carneiro suicida-se em Paris a um mês de completar 26 anos.

1917
Julho-Agosto: Cria a firma F.A. Pessoa, que funcionará menos de um anos como intermediária em negócios de diversa natureza.
Outubro: Publica o «Ultimatum» de Álvaro de Campos no único número da revista “Portugal Futurista”, apreendida pela polícia em novembro.

FotoArca onde foram descobertos originais de Fernando Pessoa

1919
7 de outubro: O padrasto, João Miguel Rosa, morre em Pretória.
Novembro: Conhece Ofélia Queirós, secretária numa firma da qual Pessoa era colaborador eventual. Os dois iniciam namoro, o único de Pessoa.

1920
1 de março: Escreve a sua primeira carta a Ofélia Quirós.
29 de novembro: Rompe o namoro.

1921
Funda uma pequena editora, a Olisipo.

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1922
Maio: Publica, no primeiro número da revista “Contemporânea”, de Lisboa, «O banqueiro anarquista».
Outubro: Publica, na “Contemporânea”, «Mar português», com doze poemas, onze dos quais farão parte de “Mensagem”.
Novembro: Funda outra firma dedicada a negócios variados, F.N. Pessoa, que funcionará três anos.

1923
Fevereiro: A Olisipo publica o opúsculo “Sodoma divinizada” de Raul Leal.
Março: Estudantes conservadores lideram um protesto contra a «literatura de Sodoma». O livro de Leal é apreendido, juntamente com “Canções”, de António Botto, reeditado no anterior pela Olisipo. Pessoa defende publicamente os seus autores.

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1924
Outubro: Funda a revista “Athena”, cujo primeiro número inclui 20 odes de Ricardo Reis, poeta até então desconhecido do público.

1925
Março: O quarto número de “Athena”, datado de janeiro, apresenta ao público o heterónimo Alberto Caeiro, com 23 poemas de «O guardador de rebanhos».
17 de março: Morre a mãe.
Junho: Sai o quinto e último número de “Athena”.

1926
Janeiro: Funda com o cunhado a “Revista de Comércio e Contabilidade”, que sobrevive seis números.

FotoÚltimo poema, datado, em português

1927
4 de junho: Com um poema ortónimo – assinado por Pessoa – e o texto “Ambiente”; subscrito por Álvaro de Campos, unicia uma intensa colaboração na revista “Presença”.

1928
Março: Publica «O interregno: defesa e justificação da ditadura militar em Portugal”, em que defende que o regime militar seria uma transição para a «salvação e o renascimento» do país.
Agosto: Cria o seu último heterónimo, o fidalgo Barão de Teive.

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1929
Abril-Junho: Sai em “A Revista da Solução Editora”, de Lisboa, o primeiro de onze trechos do “Livro do desassossego”, publicados entre 1929 e 1932, todos assinados por Bernardo Soares.
Setembro: Retoma o namoro com Ofélia Queirós, voltando a corresponder-se e a encontrar-se com ela.

1930
11 de janeiro: Remete a última carta a Ofélia Queirós.
23 de julho: escreve os dois últimos poemas, datados, de Alberto Caeiro, ambos de “O pastor amoroso”.

1931
1 de abril: Escreve o poema «Autopsicografia», um dos mais famosos.

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1932
Setembro: Procurando segurança financeira, candidata-se ao cargo de conservador-bibliotecário do Museu-Biblioteca Conce de Castro Guimarães, em Cascais, mas é recusado.

1933
Julho: Publica, na “Presença”, o poema «tabacaria”, de Álvaro de Campos, escrito em janeiro de 1928.

1934
Maio: Publica o poenma “Eros e psique”, última colaboração na “Presença”.
Julho: Começa a escrever quadras de forma popular; produzirá mais de 350.
1 de dezembro: Sai «Mensagem», o único livro de poesia em português que publicou. A obra conquista um prémio do Secretariado de Propaganda Nacional.

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1935
4 de fevereiro: Publica no “Diário de Lisboa” um veemente artigo contra um projeto de lei que visa suprimir as «associações secretas», nomeadamente a Ordem Maçónica. A Assembleia Nacional aprovará o decreto por unanimidade.
21 de outubro: Escreve «Todas as cartas de amor são ridículas», último poema, datado, de Álvaro de Campos.
13 de novembro: Escreve «Vivem em nós inúmeros», último poema, datado, de Ricardo Reis.
19 de novembro: Escreve «Há doenças piores que as doenças», último poema português datado.
22 de novembro: Escreve «The happy sun is shining», último poema, datado, em inglês.

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29 de novembro: É internado com cólicas e febre. No hospital escreve as suas últimas palavras: «I know not what tomorrow will bring».
30 de novembro: Morre, possivelmente de pancreatite aguda, pelas 20h00.
2 de dezembro: É enterrado no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa. Alguns jornais noticiam a morte do «grande» poeta. Mas só a descoberta de 25 mil originais guardados numa arca e a publicação póstuma da sua obra revelam Pessoa como o maior poeta português do século XX.

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O órfão de Deus

Em texto publicado neste site em 2010, o padre José Tolentino Mendonça referiu-se a Fernando Pessoa como «o órfão de Deus».

«A poesia de Pessoa é um diagnóstico espiritual que cartografa com exatidão não só as aspirações, mas também o profundo sentimento de perda que atravessa a Modernidade. A marca da cultura moderna não reside, ao contrário do que se diz, na ausência do sentimento religioso, da ética ou da estética. O que caracteriza a Modernidade, mais do que o vazio, é um extravagante excesso, mas sob um regime novo: o da radical autonomização que confere à cultura e ao homem um perfil estilhaçado. A partir de agora flutuamos como fragmentos de uma unidade perdida e inalcançável, e como sujeitos organizamo-nos entre orfandade e ficção.

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No início do “Livro do Desassossego”, essa espécie de diário da nossa alma moderna, Fernando Pessoa (perdão, Bernardo Soares) avança as coordenadas epocais em que se situa, em que nos situamos:

“Nasci em um tempo em que a maioria dos jovens haviam perdido a crença em Deus, pela mesma razão que os seus maiores a haviam tido - sem saber porquê. E então, por que o espírito humano tende naturalmente para criticar por que sente, e não por que pensa, a maioria desses jovens escolheu a Humanidade para sucedâneo de Deus. Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem... Por isso nem abandonei Deus tão amplamente como eles, nem aceitei nunca a Humanidade… Não sabendo o que é a vida religiosa, nem podendo sabê-lo, por que se não tem fé com a razão; não podendo ter fé na abstração do homem, nem sabendo mesmo que fazer dela perante nós, ficava-nos, como motivo de ter alma, a contemplação estética da vida”.

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Porém, a “contemplação estética da vida”, só por si, é insuficiente como motor e sentido de uma existência. Esta entra demasiado depressa, como o poeta reconhece, num inverno inclemente e gelado. Por isso escreve: “Quando acabará isto tudo, estas ruas onde arrasto a minha miséria, e estes degraus onde encolho o meu frio e sinto as mãos da noite por entre os meus farrapos?”. E é aqui, no profundo drama da condição humana, na sua radical exposição, que se insinua a nostalgia de um Deus verdadeiro, em inesquecível diálogo com a parábola do filho pródigo (Lucas 15, 11-32): “Se um dia Deus me viesse buscar e me levasse para sua casa e me desse calor e afeição… Às vezes penso isto e choro com alegria a pensar que o posso pensar…”.»

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Informação sobre os heterónimos, cronologia: Exposição "Fernando Pessoa, Plural como o Universo"
Fotografia: Rui Jorge Martins
Vídeo: Fundação Calouste Gulbenkian

© SNPC | 01.03.12

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