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«Hiroxima foi uma verdadeira catequese humana sobre a crueldade»: João Paulo II e Francisco sobre a «tragédia inesquecível»

A 6 de agosto de 2020 passam 75 anos sobre o bombardeamento atómico da cidade japonesa de Hiroxima, seguida, no dia 9, pela bomba nuclear sobre Nagasáqui.

 

O nome da cidade japonesa de Hiroxima tornou-se símbolo das ameaças, para as quais toda a humanidade se volta, dado que não consegue vencer a terrível tentação de dominar os outros com meios de total destruição nuclear.  (...)

Quanto ainda nos resta fazer a fim de que este dom da paz possa ser alcançado; não venha a ser destruído pela nossa covardia ou má vontade; se possa evitar que a humanidade reviva uma nova Hiroxima. (João Paulo II, 24.2.1981)

 

Hiroxima e Nagasáqui distinguem-se de todos os outros lugares e monumentos como as primeiras vítimas da guerra nuclear.

Inclino a cabeça quando recordo os milhares de homens, mulheres e crianças que perderam a vida num momento terrível, e aqueles que por longos anos trouxeram no corpo e na mente os germes de morte que inexoravelmente continuaram o seu processo de destruição. O balanço definitivo do sofrimento humano iniciado aqui, ainda não foi completamente redigido, nem ainda calculado o completo custo humano pago, sobretudo se considerarmos o que a guerra nuclear provocou — e poderá ainda provocar — nas nossas ideias, nas nossas atitudes e na nossa civilização. (...)

Recordar Hiroxima é abominar a guerra nuclear. Recordar Hiroxima é assumir um compromisso pela paz. Recordar tudo aquilo que sofreram os habitantes desta cidade é renovar a nossa confiança no homem, na sua capacidade de fazer o que é bem, na sua liberdade de escolher o que é justo, na sua vontade decidida para transformar uma situação trágica num começar de novo. (João Paulo II, 25.2.1981)

 

É com grande emoção que saúdo hoje todos aqueles que ainda trazem no próprio corpo os sinais da destruição que se abateu sobre eles no dia daquela inesquecível explosão [vítimas da bomba atómica]. O que vós sofreis também provocou uma ferida no coração de cada ser humano sobre a terra. A vossa vida aqui hoje é o apelo mais convincente que poderia ser dirigido a todos os homens de boa vontade, o apelo mais convincente contra a guerra e em favor da paz. Vêm-me à memória neste momento as palavras do Presidente da Câmara Municipal de Hiroxima, dois anos após a primeira explosão nuclear: «Aqueles que experimentaram e se deram plenamente conta do sofrimento e do pecado que é a guerra denunciam incondicionalmente a guerra como a última agonia, e desejam a paz com o maior ardor». Todos, nós estamos em dívida para convosco, porque vós sois o apelo vivo e constante para a paz. (João Paulo II, 26.2.1981)

 

Em Hiroxima, os factos falam por si, e de maneira dramática, inesquecível e única. Diante de uma tragédia inesquecível, que atinge todos nós como seres humanos, como poderíamos deixar de expressar os nossos sentimentos de fraternidade e a nossa profunda solidariedade pelas terríveis feridas infligidas àquelas cidades do Japão que têm o nome de Hiroxima e de Nagasáqui?

Estas feridas atingiram toda a família humana. Hiroxima e Nagasáqui: poucos acontecimentos na história tiveram as mesmas consequências sobre a consciência do homem. Os representantes do mundo da ciência não foram os menos atingidos pela crise moral causada no mundo pela explosão da primeira bomba atómica. A mente humana fez, na verdade, uma terrível descoberta. Demo-nos conta, com horror, de que a energia nuclear se tornaria disponível, doravante, como arma de devastação; e de facto, naquela ocasião ficámos a saber que este terrível instrumento tinha sido usado, pela primeira vez, para fins militares. E naquela ocasião nasceu a pergunta que não nos abandonará nunca: esta arma, aperfeiçoada e multiplicada além das medidas, será usada no futuro? E, em caso afirmativo, não destruirá provavelmente a família humana, os seus membros e todas as conquistas da civilização? (João Paulo II, 14.8.1982)

(...) a 6 e 9 de Agosto de 1945, ocorreram os terríveis bombardeamentos atómicos de Hiroxima e Nagasáqui. À distância de muito tempo, esse trágico evento ainda suscita horror e repulsão. Ele tornou-se o símbolo do desmedido poder destrutivo do homem quando faz uso deturpado dos progressos da ciência e da técnica, e constitui uma advertência perene para a humanidade, a fim de que repudie para sempre a guerra e proíba as armas nucleares e qualquer arma de destruição de massa. Essa triste data exorta-nos sobretudo a rezar e a comprometer-nos em prol da paz, para difundir no mundo uma ética de fraternidade e um clima de convivência serena entre os povos. De cada terra se eleve uma só voz: não à guerra, não à violência e sim ao diálogo, sim à paz! Com a guerra sempre se perde. E a única maneira de vencer uma guerra é não fazê-la. (Francisco, 9.8.2015)

 

Vem-me à mente aquela idosa que olhando para as ruínas de Hiroxima, com sábia resignação mas com muito sofrimento, com aquela resignação lamentosa que as mulheres sabem viver, porque é o seu carisma, dizia: «Os homens fazem de tudo para declarar e entrar em guerra, e no final destroem-se a si mesmos». Esta é a guerra: a destruição de nós mesmos. Certamente aquela mulher, aquela idosa, tinha perdido ali filhos e netos; só lhe restavam a chaga no coração e as lágrimas. E se hoje é um dia de esperança, hoje é também um dia de lágrimas. Lágrimas como as que sentiam e derramavam as mulheres quando recebiam o correio: «A senhora é honrada porque o seu marido foi um herói da Pátria; os seus filhos são heróis da Pátria». São lágrimas que hoje a humanidade não deve esquecer. O orgulho desta humanidade que não aprendeu a lição e parece que não a quer aprender!

Quando, muitas vezes na história, os homens pensam em fazer uma guerra, estão convencidos de que contribuem para um mundo novo, que contribuem para uma «primavera». Mas acaba num inverno, terrível, cruel, com o reino do terror e da morte. Hoje rezamos por todos os defuntos, por todos, mas de modo especial por estes jovens, num momento em que tantos morrem nas batalhas de todos os dias desta guerra aos pedaços. Rezemos também pelos mortos de hoje, pelos mortos de guerra, até crianças, inocentes. Eis o fruto da guerra: a morte. E que o Senhor nos conceda a graça de chorar. (Francisco, 2.11.2017)

 

Aqui, de tantos homens e mulheres, dos seus sonhos e esperanças, no meio dum clarão de relâmpago e fogo, nada mais ficou além de sombra e silêncio. Num instante apenas, tudo foi devorado por um buraco negro de destruição e morte. Daquele abismo de silêncio, ainda hoje continua a ouvir-se forte o grito daqueles que já não estão aqui. Provinham de lugares diversos, tinham nomes diferentes, alguns deles falavam outras línguas. Ficaram todos unidos por um mesmo destino, numa hora tremenda que marcou para sempre não só a história deste país, mas também o rosto da humanidade.

Aqui, faço memória de todas as vítimas e inclino-me perante a força e a dignidade das pessoas que, tendo sobrevivido àqueles primeiros momentos, suportaram nos seus corpos durante muitos anos os sofrimentos mais agudos e, nas suas mentes, os germes da morte que continuaram a consumir a sua energia vital.
Senti o dever de vir a este lugar como peregrino de paz, para me deter em oração, recordando as vítimas inocentes de tanta violência e trazendo no coração também as súplicas e anseios dos homens e mulheres do nosso tempo, especialmente dos jovens, que desejam a paz, trabalham pela paz, sacrificam-se pela paz. Vim a este lugar cheio de memória e futuro, trazendo comigo o grito dos pobres, que são sempre as vítimas mais indefesas do ódio e dos conflitos.(...)

Desejo reiterar, com convicção, que o uso da energia atómica para fins de guerra é, hoje mais do que nunca, um crime não só contra o homem e a sua dignidade, mas também contra toda a possibilidade de futuro na nossa casa comum. O uso da energia atómica para fins de guerra é imoral, como é imoral de igual modo – já o disse há dois anos – a posse das armas atómicas. Seremos julgados por isso. (...)

Recordar, caminhar juntos, proteger: são três imperativos morais que adquirem, precisamente aqui em Hiroxima, um significado ainda mais forte e universal e são capazes de abrir um caminho de paz. Consequentemente não podemos permitir que as atuais e as novas gerações percam a memória do que aconteceu, aquela memória que é garantia e estímulo para construir um futuro mais justo e fraterno; uma memória expansiva, capaz de despertar as consciências de todos os homens e mulheres, particularmente de quantos hoje desempenham um papel especial no destino das nações; uma memória viva, que ajude a dizer de geração em geração: nunca mais! (Francisco, 24.11.2019)

 

Hiroxima foi uma verdadeira catequese humana sobre a crueldade. A crueldade. Não pude ver o museu de Hiroxima (…), mas dizem que o museu é terrível, terrível: cartas dos Chefes de Estado, dos generais que explicavam como se podia fazer um desastre maior. Para mim, foi uma experiência muito mais comovente que a de Nagasáqui. Em Nagasáqui, foi a experiência do martírio: vi de relance o museu do martírio; mas a experiência de Hiroxima foi muito comovente. E lá reiterei que o uso das armas nucleares é imoral – isto deve estar no Catecismo da Igreja Católica – e não apenas o uso, mas também a posse, pois [por causa da posse] um incidente ou a loucura de qualquer governante, a loucura duma pessoa pode destruir a humanidade. (Francisco, 26.11.2019)

 

Na senda dos meus antecessores, quero também implorar a Deus e convidar todas as pessoas de boa vontade para que continuem a estimular e favorecer todas as mediações dissuasivas necessárias para que não volte jamais, na história da humanidade, a acontecer a destruição provocada pelas bombas atómicas em Hiroxima e Nagasáqui. A história ensina-nos que os conflitos entre povos e nações, mesmo os mais graves, podem encontrar soluções válidas apenas através do diálogo, única arma digna do ser humano e capaz de garantir uma paz duradoura. Estou convencido da necessidade de abordar a questão nuclear a nível multilateral, promovendo um processo político e institucional capaz de criar um consenso e uma ação internacional mais amplos. (Francisco, 25.11.2019)









 

Edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 06.08.2020 | Atualizado em 09.10.2023

 

 
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