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Arquitetura: Igreja de Nossa Senhora de Fátima, Lagares, Felgueiras

Ver e admirar uma igreja cujos volumes se jogam todos sobre paredes curvilíneas rebocadas e pintadas de branco faz pensar em algumas referências recentes, entre as quais a igreja de Deus Pai Misericordioso, realizada em Roma por Richard Meyer em 2003, e em algumas realizações de Álvaro Siza Vieira, da igreja de Santa Maria, construída em Marco de Canaveses em 1990-96, à igreja “Anastasis” (Ressurreição), concluída em Rennes, em 2018.

O projeto realizado pelo estúdio português FCC Arquitectura, à responsabilidade de Fernando Coelho e Ana Loureiro, foi concluído em 2003. As obras começaram dois anos depois, tendo-se concluído em 2019.

A igreja situa-se num terreno consideravelmente íngreme, graças à realização de um plano-plataforma a que se chega através de uma grande escadaria.

Desde as primeiras visitas ao terreno os projetistas destacaram um papel basilar precisamente nas linhas curvas, para que criassem logo à primeira aproximação um convite a entrar no espaço litúrgico e a serem acolhidos, focalizando a entrada principal na igreja.

No interior as curvaturas destes elementos murais colocam em relação os focos litúrgicos e celebrativos, constituindo um guia para os olhar do visitante e uma orientação espiritual para o fiel em busca de um misticismo que se expressa também através de elementos simbólicos claros.

Símbolos que entram também na composição dos espaços, na forma do peixe, símbolo cristão por antonomásia, na água e no seu papel purificador no Batismo e nas bênçãos.

Espaços que se estruturam sobre uma planta axial convencional que tem o seu foco no altar e no presbitério, sublinhado este por um elemento mural semicircular, quase uma abside suspensa.

Nos flancos desta instalação alongada dispõem-se entre o primeiro e o segundo piso os espaços da sacristia, os núcleos dos serviços, a biblioteca e o arquivo.

O espaço é iluminado pela luz natural graças a janelões colocados superiormente sobre as paredes e sobre a cobertura.

Elementos escultóricos contemporâneos, assinados por Paulo Neves, constituem uma sequência que parte do nível superior à entrada esse alinham sobre a parede da esquerda.

O batistério é contido num volume quase externo, colocado ao lado da entrada da igreja: o interior é constituído por um pódio inteiramente pavimentado em madeira, sobre o qual foi colocada a fonte batismal, a que se acede através de socalcos.

Os pavimentos, como os bancos, são em madeira.

O campanário está separado do corpo principal, do qual retoma o tema das formas curvilíneas e é em cimento armado à vista. No alto, uma cruz cortada na parede em cimento faz referência à igreja da Luz, de Tadao Ando, obra-prima realizada em 1989 em Ibaraki, na área metropolitana de Osaka.

«O projeto de uma igreja parece-nos o ideal para a busca de uma dimensão simbólica, mística e expressiva. Como a História tem ensinado, a aliança entre arte e religião proporciona ao Homem momentos únicos, mágicos e de exaltação que enriquecem a vida, a mente e a alma», escrevem os arquitetos.

Os projetistas recordam que «a igreja, construção material, representação humana do Divino, tem um papel importantíssimo no desenvolvimento de uma sensibilidade», devendo ser considerada «para todos» um «sinal vivo, que transmita um significado transcendente, que nos faça olhar para além do que vemos, que nos leve a parar para sentir».


 

Carlo Pozzi
In Thema
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: D.R.
Publicado em 09.10.2023

 

 

 
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