O presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais afirmou esta quarta-feira em Lisboa que «a Igreja em Portugal precisa do contributo dos artistas e das epifanias de sentido e de beleza que elas realizam».
«Sem os artistas a expressão do mistério de Deus seria mais pobre, e o homem seria um estrangeiro de si mesmo; sem os artistas a Igreja ver-se-ia privada de uma linguagem expressiva, para muitos a única linguagem ainda inteligível», frisou D. Pio Alves na sessão de entrega do Prémio Árvore da Vida ao arquiteto Nuno Teotónio Pereira.
A cerimónia realizada na sala de conferências da igreja do Sagrado Coração de Jesus (1970), classificada como Monumento Nacional e de que o premiado foi coautor, contou com a presença dos outros dois bispos pertencentes à Comissão Episcopal da Cultura, D. João Lavrador e D. Nuno Brás, bem como de D. Januário Torgal, bispo das Forças Armadas e de Segurança.
Perante cerca de uma centena de pessoas presentes na sessão, D. Pio Alves salientou que o Prémio Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes traduz “uma dívida de gratidão» que a Igreja em Portugal tem por Nuno Teotónio Pereira e pela sua geração, «pelo nível a que elevaram o diálogo entre a Fé e a Cultura».
«Devemos-vos igualmente o testemunho do que pode ser a presença cristã no meio do mundo, uma presença afável e de serviço, uma presença profética e comprometida, de quem se sabe chamado a ser "sal" e “luz”», apontou.
Discurso integral
Senhor Arquiteto Nuno Teotónio Pereira,
Constitui uma grande alegria para mim, enquanto Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais da Igreja, entregar-lhe este tão merecido galardão que leva o nome de uma das referências da cultura humanista e cristã da última metade do século XX português, o Padre Manuel Antunes, e se chama também de "Árvore da Vida". Em boa hora, e também graças ao patrocínio da Rádio Renascença que nos apraz sublinhar, foi criado este prémio que visa identificar, na polifonia da nossa cultura, esses e essas que representam "árvores da vida" pela fecundidade dos seus percursos criadores.
Da esquerda para a direita: Nuno Teotónio Pereira, D. Pio Alves, cón. João Aguiar (Rádio Renascença), p. Tolentino Mendonça (Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura) | SNPC
Nesse sentido, chegar ao seu nome foi uma tarefa que entusiasmou o júri e alegrou tanto a Igreja como o mundo da Cultura. Não é difícil reconhecer em si uma "Árvore da Vida", caro Arquiteto Nuno Teotónio Pereira. Com efeito, deixa-nos uma marca pessoalíssima e de rara qualidade na arquitetura portuguesa, a que sempre aliou outros dois traços que se diriam pouco frequentes: o grande gosto pelo trabalho em equipa e uma genuína preocupação pela dimensão social do trabalho arquitetónico. Não me vou debruçar sobre o notável conjunto das suas obras, de onde justamente se destaca esta igreja do Sagrado Coração de Jesus que agora nos acolhe. Quero antes reconhecer que este prémio sublinha uma dívida de gratidão que a Igreja em Portugal tem por si, e pela sua geração, pelo nível a que elevaram o diálogo entre a Fé e a Cultura. De maneira particular evocamos o programa e a ação do Movimento de Renovação da Arte Religiosa (MRAR), de que o Senhor Arquiteto foi o primeiro presidente. Devemos-vos um significativo contributo para a tradução plástica da reforma litúrgica que o Concílio Vaticano II protagonizaria, mas não só. Devemos-vos igualmente o testemunho do que pode ser a presença cristã no meio do mundo, uma presença afável e de serviço, uma presença profética e comprometida, de quem se sabe chamado a ser "sal" e “luz”.
D. Nuno Brás e D. João Lavrador | SNPC
Como escreveu João Paulo II, «para transmitir a mensagem que lhe foi confiada por Cristo, a Igreja precisa da arte» (Carta aos Artistas, n. 12). Gostaria nesta hora de dizer: a Igreja em Portugal precisa do contributo dos artistas e das epifanias de sentido e de beleza que elas realizam. Sem os artistas a expressão do mistério de Deus seria mais pobre, e o homem seria um estrangeiro de si mesmo; sem os artistas a Igreja ver-se-ia privada de uma linguagem expressiva, para muitos a única linguagem ainda inteligível.
Em 2009, falando aos Artistas reunidos na Capela Sistina, o Papa Bento XVI dizia: «Queridos Artistas, gostaria de vos dirigir também eu, (...) um cordial, amistoso e apaixonado apelo. Vós sois guardiães da beleza; vós tendes, graças ao vosso talento, a possibilidade de falar ao coração da humanidade, de tocar a sensibilidade individual e coletiva, de suscitar sonhos e esperanças, de ampliar os horizontes do conhecimento e do empenho humano. Sede portanto gratos pelos dons recebidos e plenamente conscientes da grande responsabilidade de comunicar a beleza, de fazer comunicar na beleza e através da beleza! Sede também vós, através da vossa arte, anunciadores e testemunhas de esperança para a humanidade!».
Caro Arquiteto Nuno Teotónio Pereira, obrigado por mostrar-nos como este apelo se cumpre.
Cón. João Aguiar entrega a Nuno Teotónio Pereira o prémio patrocinado pela Rádio Renascença (2500 euros) | SNPC