(…) Se nos ativermos ao contributo da antropologia cultural, aparentemente estamos [a humanidade], desde as origens, à procura de um centro. Vemos este horizonte muito mutável, variado. (…) O antropólogo romeno, historiador das religiões, Mircea Eliade, sublinhou que a humanidade, quando começou a organizar o espaço, quis construir um centro, e este centro era o tempo, ou seja, o lugar em que, de alguma maneira, houvesse uma espécie de coordenação de todo o horizonte em que estamos incorporados.
Este elemento é significativo porque, assim, o espaço sagrado torna-se não apenas uma questão religiosa onde se deve invocar verticalmente Deus que está acima. Eis, portanto, a importância do edifício que seja “residência” de Deus, mas que exprima também uma função necessária de organização de sentido. (…)
O arquiteto não deve necessariamente ter uma fé, mas deve necessariamente ter um diálogo com o crente, com a comunidade que se encontrará no interior do seu espaço. É por esta razão que é indispensável a comunidade que interpela, dialoga, naturalmente tomando em consideração as novas exigências, inclusive as novas gramáticas, que são próprias da construção, da arquitetura, da própria urbanística que interpela o arquiteto e vice-versa, de maneira que verdadeiramente não se criem espaços sagrados que por vezes são parecidos com pavilhões, que são parecidos com salas de reuniões, ou que se construam nos lugares nos quais há uma espécie de surdez à espiritualidade.
Penso que o templo deve ter a luz. A luz é uma componente fundamental no interior do culto, deve haver alguns sinais que são capitais para o culto cristão. Pensemos no altar, no ambão, no crucifixo e eventualmente no batistério. Ou seja, são componentes que não podem ser criados de maneira fantasiosa ou serem excluídos pelo arquiteto, mas devem ser compreendidos para que a comunidade se encontre a si própria. Mais uma vez, eis a importância da comunidade.
Nunca esqueçamos que na Bíblia o templo é chamado no Antigo Testamento de “ohel mo’ed’”, que quer dizer a tenda do encontro: o encontro com Deus antes de tudo, mas também o encontro das pessoas entre elas. Estas duas componentes, a componente sagrada e a componente da assembleia litúrgica devem sempre cruzar-se, e o arquiteto deve aprendê-las, para que a sua obra não prevarique em torno a estas duas componentes.