No fim de 2018, o Átrio dos Gentios, plataforma da Igreja católica sedeada no Vaticano que tem como propósito favorecer o encontro e o diálogo entre crentes e não crentes, apresentou uma síntese das suas atividades anuais.
Ambiente e desenvolvimento sustentável, arquitetura e espiritualidade, diálogo intercultural, economia, demografia, democracia, paridade de géneros e violência contra as mulheres e desporto, foram alguns dos temas e desafios acompanhados pelo departamento criado por inspiração do papa Bento XVI e desde então dependente do Conselho Pontifício da Cultura.
«Como crentes, sentimo-nos próximo também de todos aqueles que, não se reconhecendo parte de qualquer tradição religiosa, buscam sinceramente a verdade, a bondade e a beleza, que, para nós, têm a sua máxima expressão e a sua fonte em Deus. Sentimo-los como preciosos aliados no compromisso pela defesa da dignidade humana, na construção duma convivência pacífica entre os povos e na guarda da criação», lê-se na exortação apostólica “A alegria do Evangelho”.
Nesse documento, o papa Francisco sublinha reitera a intuição do seu predecessor: «Um espaço peculiar é o dos chamados novos Areópagos, como o “Átrio dos Gentios”, onde “crentes e não-crentes podem dialogar sobre os temas fundamentais da ética, da arte e da ciência, e sobre a busca da transcendência”. Também este é um caminho de paz para o nosso mundo ferido».
As iniciativas a seguir elencadas podem servir de inspiração para dioceses, paróquias, comunidades, movimentos, congregações e outros organismos da Igreja católica lançarem-se num dueto – e não duelo – entre vozes e personalidades de relevo da cultura, laicas ou católicas, superando desconfianças entre mundos aparentemente inconciliáveis.
O evento mais notório do Átrio dos Gentios em Portugal ocorreu a 16 e 17 de novembro de 2012 em Guimarães e Braga, dedicado ao tema “O valor da vida”, e desde então têm sido variados, embora escassas, os projetos a nível local.
“Laudato si’”: As culturas interrogam-se
Intelectuais de diferentes culturas e religiões interrogaram-se e confrontaram-se com questões como o ambiente, a salvaguarda da vida humana e a gestão integradora do planeta na época da globalização.
Os novos espaços da criatividade
Arte e arquitetura tornaram-se instrumentos fundamentais de requalificação urbana. Quatro dezenas de estudantes expuseram as suas obras numa estação de metropolitano de Roma.
Liberdade de expressão
Artistas, intelectuais e homens de fé debateram o tema da liberdade de expressão e dos seus eventuais limites, dividindo-se em duas equipas.
Geometrias do Espírito
Para celebrar a primeira participação da Santa Sé na Bienal de Arquitetura de Veneza, projeto que colocou em diálogo arquitetura, música e espiritualidade, com criadores de vários países, incluindo a participação do arquiteto português Eduardo Souto de Moura.
Disparos livres: A África aos olhos das crianças
Primeira mostra fotográfica sobre África, realizada por crianças que habitam no continente. A exposição resultou de um conjunto de laboratórios de fotografia no Mali e no Quénia que pretendem oferecer aos menores uma alternativa concreta à vida nas ruas. Exemplares das imagens foram colocados à venda pela Internet, com as receitas a reverterem para aqueles projetos.
Economia
Debate entre economistas e jovens estudantes sobre temas de economia, globalização dos mercados e crise demográfica.
Fronteiras da dignidade
Discussão sobre a violência contra as mulheres e a paridade de géneros que envolveu estudantes liceais.
#BeAlive
Dia dedicado a promover os valores do desporto e a prática desportiva como instrumentos de inclusão e integração. Mais de dois mil jovens reuniram-se num estádio para experimentar variadas modalidades, com o apoio de treinadores e atletas campeões.
Comboio das Crianças
Quatrocentas crianças provenientes das periferias de Milão e Roma encontraram-se com o papa Francisco e mostraram-lhe como é a vida nos seus bairros.
Já foram definidos os temas a desenvolver em 2019. No domínio da música, o presidente do Conselho Pontifício da Cultura, cardeal Gianfranco Ravasi, dialogará com grandes compositores no Teatro alla Scala, de Milão.
Será igualmente abordado o tema da narração, discernindo as modalidades capazes de contribuir para o desenvolvimento cultural e para o sentido ético comum, nomeadamente através da discussão das “migrações dos povos e migrações das ideias”.
Pós-humanismo e novas tecnologias, desporto, desenvolvimento sustentável e salvaguarda das culturas primitivas estarão também na agenda.