«A tradição cristã chama-as precisamente “lágrimas de S. Lourenço”, mas para nós, astrónomos, são meteoros e poeira cósmica»: é com estas palavras que diretor do Observatório do Vaticano fala do fenómeno que pode ser visto na noite deste domingo, em Portugal especialmente a partir das 23h00.
O Fr. Guy Joseph Consolmagno explica que «quando a Terra, no seu momento de revolução, atravessa a órbita de um cometa, encontra esse pó. E se alguns detritos, que viajam a dezenas e dezenas de km por segundo, entram na atmosfera, incendeiam-se. Vê-se então aquele rasto luminoso no céu pensa-se que caiu uma estrela».
«É sempre um fenómeno imprevisível e surpreendente, que arrebata a fantasia. Por vezes partes desses fragmentos conseguem chegar intactos ao solo. Tornam-se assim documentos preciosos para as nossas investigações. Investigações que são um pouco como “espiar” Deus», aponta.
O responsável por uma das instituições de pesquisa astronómica mais antigas da Europa explica a imagem: Se, com efeito, compreendermos cada vez mais como se formaram os planetas, talvez possamos conseguir aproximar-nos daquele que foi o responsável por eles».
Nascido em Detroit, nos EUA, autor de centenas de publicações científicas e livros traduzidos em várias línguas, o irmão Guy, como gosta de ser chamado, é considerado dos mais importantes especialistas a nível mundial no domínio dos meteoritos, e por esse motivo a União Astronómica Internacional batizou um asteróide com o nome “4597 Consolmagno”, também conhecido por “Little Guy”.
É fascinante ouvi-lo falar de “estrelas cadentes”, planetas e vida extraterrestre porque no seu pensamento a ciência e a fé caminham mão na mão, melhor, abraçam-se: «E como podia ser de outra maneira?», exclama.
«O universo é um livro escrito por Deus. Se se aprende a lê-lo, podem decifrar-se as mensagens que Ele ocultou em cada coisa. Fé e ciência são complementares: a fé diz-me quem criou o universo e a ciência explica-me como o fez», assinala.
Voltando à noite de S. Lourenço, o irmão Guy precisa: «No passado, o momento da máxima visibilidade dos meteoros deverão era em torno de 10 de agosto [dia em que a Igreja evoca a memória do diácono S. Lourenço, séc. III]. Mas no decorrer dos séculos, por causa da processão dos equinócios, o pico deslizou dois ou três dias, e por isso as “estrelas cadentes” veem-se bem a 12 ou 13 de agosto».
«Neste período, a Terra atravessa o sulco que o cometa Swift-Tuttle deixou nas suas passagens anteriores, a última das quais em 1992. O resultado é a chuva de meteoros típica do verão, cujo nome correto é Perseidas, porque parecem ter origem na constelação Perseu», prossegue.
O religioso jesuíta nunca escondeu que acredita na vida em outros planetas: «Não existe nada na Sagrada Escritura que possa confirmar, mas também nada contradiz a possibilidade de vida inteligente além da existente na Terra. Por isso trata-se de um entusiasmante campo de investigação», afirma.
«A ciência, a astronomia servem precisamente para isto: tentar conhecer um pouco mais Deus, ver como age, diria reconhecer o seu “estilo”. Quando faço progressos nas investigações sinto dentro de mim uma satisfação, uma alegria que não é diferente daquela que experimento na igreja durante a noite de Natal», refere.
E o Fr. Guy Joseph Consolmagno conclui: «Para mim, é um sinal seguro da presença do Criador. É um conforto imenso, como a oração. Recordo que Santo Atanásio, no séc. IV, disse que a Incarnação de Cristo tornou sagrado o próprio universo. Por isso estudar o universo e as suas leis é um pouco como rezar».