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Massacre no "Charlie-Hebdo": Resposta passa por mostrar convicção na sociedade democrática e na convivência

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Massacre no "Charlie-Hebdo": Resposta passa por mostrar convicção na sociedade democrática e na convivência

O que é pior? A caricatura de Maomé e do sanguinário intitulado califa al-Baghdadi ou a imagem verdadeira, que está a dar a volta ao mundo, em que duas pessoas exaltam Alá disparando o golpe final contra um polícia caído por terra, já ferido, depois de terem cometido um massacre na redação de um jornal?

O cruel ataque terrorista executado em Paris contra o semanário "Charlie Hebdo", qualquer que seja a sua génese (e por agora a mais provável parece ser a do extremismo islâmico), só pode suscitar o máximo horror e a máxima condenação pelas vidas humanas inocentes que foram destroçadas.

Mas a opção de atingir um jornal, o seu diretor, os seus redatores, aqueles que com várias funções permitiam a sua realização, e quem o defendia como protetor da ordem, deve inquietar, se tal é possível, ainda mais. A liberdade de expressão, sancionada pelo artigo 37 da Constituição [portuguesa] - «todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio» - não significa licença para ofender, mas permanece uma das conquistas e baluartes fundamentais da nossa civilização cristã e liberal.

Hoje, na mira dos fanáticos, qualquer que seja a sua inspiração homicida e totalitária, esteve o "Charlie Hebdo". Amanhã poderá ser a vez de outros meios de comunicação, "réus" por não se alinharem àquelas ideologias que, como escrevia Norberto Bobbio, desprezam o respeito pelo indivíduo e dele fazem «a partícula de um todo que o transcende, e transcendendo-o pretendem sublimá-lo».

A bandeira da sociedade democrática não deve ficar a meia haste por causa do luto, mas ser desfraldada ao alto, em memória do diretor do "Charlie Hebdo" e dos seus cartoonistas incómodos e irreverentes. Como dizia também Bobbio, «o reconhecimento do valor da liberdade não deve criar a ilusão da sua eterna duração: as civilizações antigas não a reconheceram; nada nos assegura que a reconheçam os nossos descendentes».

Mesmo à luz desta advertência, seja evitada a caça às bruxas alimentada pelos agitadores de turno, o reflexo condicionado do anti-islamismo generalizado, a especulação política. Esperamos uma grande mobilização pacífica e sem distinções por uma Europa em que todos possamos discutir, criticar, pedir respeito, tendo todavia a comum e inquebrantável convicção nos valores da convivência, que hoje foram tão barbaramente violados em Paris.

 

Andrea Lavazza
In "Avvenire", 7.1.2015
Trad. / edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 07.01.2015 | Atualizado em 22.04.2023

 

 
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Esperamos uma grande mobilização pacífica e sem distinções por uma Europa em que todos possamos discutir, criticar, pedir respeito, tendo todavia a comum e inquebrantável convicção nos valores da convivência
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