Hoje falamos daquela forma de oração que é a meditação. Para um cristão, “meditar” é procurar uma síntese: significa colar-se diante da grande página da Revelação para experimentar fazê-la nossa, assumindo-a completamente.
E o cristão, depois de ter acolhido a Palavra de Deus, não a tem fechada dentro de si, porque aquela Palavra deve encontrar-se com «um outro livro», que o Catecismo chama «o da vida». É isto que tentamos fazer de cada vez que meditamos a Palavra.
A prática da meditação recebeu nestes anos uma grande atenção. Dela não falam apenas os cristãos: existe uma prática meditativa em quase todas as religiões do mundo. Mas trata-se também de uma atividade espalhada entre pessoas que não têm uma visão religiosa da vida.
Todos precisamos de meditar, de refletir, de nos reencontrar a nós próprios. Uma dinâmica humana. Sobretudo no voraz mundo ocidental procura-se a meditação porque ela representa uma barreira contra o stress quotidiano e o vazio que se alastra por todo o lado.
Eis, pois, as imagens de jovens e adultos sentados em recolhimento, em silêncio, com os olhos entreabertos… O que fazem estas pessoas? Meditam. É um fenómeno a olhar com simpatia: com efeito, nós não somos feitos para estar permanentemente a correr, possuímos uma vida interior que não pode estar sempre a ser pisada. Meditar é, portanto, uma necessidade de todos. (…)
No entanto, damo-nos conta de que esta palavra, uma vez acolhida em contexto cristão, assume uma especificidade que não deve ser eliminada. A grande porta através da qual passa a oração de um batizado – recordamo-lo mais uma vez – é Jesus Cristo. (…)
A prática da meditação segue também este caminho. O cristão, quando reza, não aspira à plena transparência de si, não se coloca em busca do núcleo mais profundo do seu eu; a oração do cristão é antes de tudo encontro com o Outro, com O maiúsculo. (…)
Se uma experiência de oração nos dá a paz interior, ou o domínio de nós próprios, ou a lucidez sobre o caminho a empreender, estes resultados são, por assim dizer, efeitos colaterais da graça da oração cristã que é o encontro com Jesus. (…)
O termo “meditação”, ao longo da história, teve significados diferentes. Inclusive no interior do cristianismo, refere-se a experiências espirituais diferentes. Todavia, podem encontrar-se algumas linhas comuns, e nisto ajuda-nos de novo o Catecismo, que diz assim: «Os métodos de meditação são tantos quantos os mestres espirituais. (…) Mas um método não é mais do que um guia; o importante é avançar, com o Espírito, sobre a única via da oração: Jesus Cristo» (n. 2707). (…)
Por isso, são muitos os métodos de meditação cristã: alguns muito sóbrios, outros mais articulados; alguns acentuam a dimensão intelectiva da pessoa, outros sobretudo a afetiva e emotiva. Todos são importantes e dignos de ser praticados, enquanto podem ajudar a experiência da fé a tornar-se um ato total da pessoa: não é apenas a mente do ser humano que reza, como não reza apenas o sentimento. (…)
Os antigos costumavam dizer que o órgão da oração é o coração, e assim explicavam que é todo o ser humano, a partir do seu centro, que entra em relação com Deus, e não apenas algumas das suas faculdades.
Por isso, deve-se sempre recordar que o método é um caminho, não uma meta: qualquer método de oração, se quer ser cristão, faz parte daquele seguimento de Cristo que é a essência da nossa fé. (…)
Novamente o Catecismo precisa: «A meditação coloca em ação o pensamento, a imaginação, a emoção e o desejo. Esta mobilização é necessária para aprofundar as convicções de fé, suscitar a conversão do coração e reforçar a vontade de seguir Cristo. A oração cristã se preferência detém-se a meditar “os mistérios de Cristo” (n. 2708).
Eis, assim, a graça da oração cristã: Cristo não está distante, mas está sempre em relação connosco. Não há aspeto da sua pessoa divino-humana que não se possa tornar para nós lugar de salvação e de felicidade. Cada momento da vida terrena de Jesus, através da graça da oração, pode tornar-se contemporâneo de nós. Graças ao Espírito Santo, (…) também nós estamos presentes junto ao rio Jordão, quando Jesus nele imerge para receber o Batismo.
Também nós somos comensais nas bodas de Caná, quando Jesus dá o melhor vinho para a felicidade dos noivos. (…) Também nós assistimos, estupefactos, às mil curas realizadas pelo Mestre. E na oração somos o leproso purificado, o cego Bartimeu que reconquista a vista, Lázaro que sai do sepulcro. (…)
Não há página do Evangelho em que não haja lugar para nós. Meditar, para nós, cristãos, é uma maneira de encontrar Jesus. E assim, só assim, de nos reencontrarmos a nós próprios. (…)