O calor do sol de verão e a pureza da fria neve no hemisfério norte: na junção prodigiosa destes dois elementos naturais está contido o sentido profundo da fé cristã, que é capaz de agregar tudo aquilo que diz respeito à vida do ser humano, inclusive as contradições.
A tradição do milagre constitui também um ícone poderoso da força de Deus, que na aridez do mundo realiza o impossível, e oferece ao coração de cada pessoa consolação e paz.
A devoção popular à Senhora da Neve traz uma mensagem profética que a liturgia celebra, particularmente na basílica de Santa Maria Maior, em Roma, a 5 de agosto, data em que também se evoca a sua dedicação.
A igreja original foi erguida pelo papa Libério, segundo indicação da própria Virgem (através de uma visão, igual à de um patrício romano, João, que haveria de financiar a construção), no local que foi coberto por um prodigioso nevão a 5 de agosto de 352.
Trata-se do santuário mariano mais antigo do Ocidente, e a atual basílica tem origem no projeto encomendado por Sisto III, papa de 432 a 440, que a dedicou a Deus e a intitulou à Virgem, proclamada solenemente «Mãe de Deus» pelo concílio de Éfeso, em 431.
Na missa que hoje se celebra de manhã, durante o canto do Glória será derramada, do alto da basílica, a tradicional chuva de flores, evocando o nevão. E à tarde, durante a recitação do terço, seguida da hora litúrgica da Vésperas, nova chuva de flores, aquando do Magnificat.
É também em Santa Maria Maior, uma das quatro basílicas papais, que se encontra uma imagem da Virgem muito querida da piedade popular da capital italiana, a “Salus Populi Romani”, salvação do povo romano.
O papa Francisco é particularmente devoto desta imagem: no dia a seguir à sua eleição, a sua primeira saída, a 14 de março de 2013, foi precisamente para rezar diante da imagem, hábito que se repete antes e depois de cada viagem apostólica.
A monumentalidade da basílica está ligada aos seus mármores e frescos, mas, sobretudo, aos seus mosaicos do século V, que se encontram ao longo da nave central e sob o arco triunfal, resumindo ciclos da revelação de Deus, tendo como protagonistas Abraão, Jacob, Moisés e Josué, e a infância de Cristo.