No Ocidente, mas não só, percebe-se desde há décadas o sinal dominante da “crise”. De vários polos este nosso tempo é lido como tempo do “fim”: fim da civilização ocidental (Jacques Derrida), fim da modernidade (Gianni Vattimo), fim não só da cristandade mas também do cristianismo, que parece perder a capacidade propulsora desencadeada pela tentativa de reforma eclesial do concílio e do pós-concílio.
Dominam a precariedade do presente e a incerteza do futuro, e sobretudo para as novas gerações há uma incógnita que desperta medos por causa da sua imprevisibilidade e pelos horizontes asfixiantes que a caracterizam: vivemos num mundo em fuga, que parece escapar ao nosso controlo e impedir-nos de compreender para onde estamos a andar. Por isso, no seu ensaio “Os novos medos”, Marc Augé chega a denunciar que hoje se teme mais o viver do que o morrer. Em particular, os nossos jovens deixam-se vencer por algo que não sabem sequer nomear e olhar no rosto, experimentando-o, todavia, como destrutivo: o niilismo, que muitas vezes lhes impede toda a procura de sentido e, portanto, de felicidade.
Por estas razões, creio que, hoje mais que nunca, seria necessário voltar a escutar a pergunta: «O que posso esperar?». E também: «O que podemos esperar juntos?». É uma pergunta por vezes muda, que senti e sinto ressoar em muitos encontros e diálogos com os jovens. É a pergunta mais profunda, que eles não sabem tão-pouco articular facilmente. A esperança, de facto, não é uma atitude a assumir ou a recusar de imediato, mas é o fruto de um discernimento, de uma espera fundada no pensar, no refletir, no escutar, no confrontar-se, e é também um exercício de grande responsabilidade.
O humano não é dado de uma vez por todas, mas é uma transformação que precisa de uma orientação, de um projeto, de um propósito pelo qual agir, de maneira a encontrar um sentido. Tem razão Dostoiévski quando afirma que «viver sem esperança é impossível», porque as pessoas às quais é subtraída a esperança tornam-se agressivas, violentas, apáticas, até caírem numa espécie de angústia autodestrutiva.
No entanto, há uma errada compreensão da esperança da qual é preciso resguardar-se: aquela de quem tende constantemente para além do presente, sem o colher na sua irrepetibilidade, constrangendo-se assim a uma existência vivida ao futuro anterior. Não, não se vive esperando viver, preparando-se sempre, e em vão, para uma felicidade que nunca chega…
Esperar é uma arte, é o estar prontos àquilo que ainda não nasceu, é um ato de fé e uma adesão convicta a uma promessa: é uma luta contra o desespero, e é por isso que é capaz de esperar em profundidade só quem conheceu a tentação de desesperar. A esperança, por fim, é o fruto de relações vivas, alimenta-se do estar juntos: nunca sem o outro! E não esqueçamos: só se pode “esperar por todos”, nunca apenas por si próprio.