“O fim do mundo”, realizado por Basil da Cunha, conquistou o Prémio Árvore da Vida, atribuído pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, da Igreja católica, na 17ª edição do IndieLisboa Festival Internacional de Cinema, que terminou este sábado.
Trata-se de «um filme profundamente humanista, um percurso reflexivo em torno do sentido e do valor da vida, em tempos onde crescem tiques de desprezo e exclusão dos mais frágeis», sublinha o júri, na declaração que justifica a escolha.
«O cuidado estético das imagens, a sua montagem irrepreensível, o excecional desempenho dos atores verdadeiramente poético, criam uma narrativa de tal forma envolvente, que permite acompanhar percursos de pessoas e comunidades, nas suas contradições e aspirações interiores, cujo destino evidencia um desejo de crescimento espiritual», refere o texto.
Dez anos após a estreia no IndieLisboa, em 2010, tendo então como jurados o P. José Tolentino Mendonça, Inês Gil e Margarida Ataíde, o Prémio Árvore da Vida, no valor de dois mil euros, distingue um filme, e respetivo cineasta, tendo como critério de eleição os seus valores espirituais e humanistas, a par das qualidades cinematográficas.
O júri, composto por Inês Gil, cineasta e professora de Cinema na Universidade Lusófona, Helena Valentim, docente do Departamento de Linguística da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e P. António Pedro Monteiro, secretário provincial dos Dehonianos e capelão hospitalar, assistiu e refletiu sobre cinco longas-metragens e 17 curtas.
Póster | D.R.
Concluída em 2019, a ficção “O fim do mundo”, com 107 minutos, marca o regresso de Basil da Cunha à Reboleira (Amadora), depois da sua primeira longa, “Até ver a luz” (2013), para contar uma «história de regressos, de fins, um retrato de uma juventude e de um espaço social», refere a sinopse.
«Spira, 18 anos, está de volta ao bairro após anos num centro de detenção juvenil. Os amigos continuam lá, assim como as festas ou os esquemas para ganhar a vida. As retroescavadoras destroem as casas do bairro, Iara entretanto tornou-se uma mulher e o tráfico é sonho e pesadelo», assinala o texto de apresentação.
Para Mafalda Melo, membro da Direção do IndieLisboa, a narrativa de “O fim do mundo” «vive do desempenho dos atores não-profissionais, que dão volume à elegia que Basil da Cunha parece querer fazer a um espaço e tempo que (não tão) lentamente desaparecem do mapa urbano».
«Ficção impura que obriga a pensar na realidade dos não-lugares que povoam as cidades, vítimas das políticas que adoecem a sua poesia e os transformam nesta noite escura», escreve.
Interpretada por Michael Spencer, Marco Joel Fernandes, Alexandre da Costa Fonseca, Iara Cardoso e Luisa Martins dos Santos, a coprodução suíço-portuguesa tem argumento de Saadi e Basil da Cunha, que também assina, com Rui Xavier, a fotografia.
Basil da Cunha | D.R.
Basil da Cunha, que também venceu o prémio do IndieLisboa para a melhor longa-metragem portuguesa, nasceu no cantão francófono de Morges, Suíça, em 1985.
O cineasta de dupla nacionalidade, suíça e portuguesa, dirigiu as curtas de ficção “La loi du Talion” (26’, 2008), “À cotê” (25’, 2009), “Nuvem” (30’, 2011) e “Os vivos também choram” (31’, 2012). A seguir a “Até ver a luz”, filmou o documentário “Nuvem negra” (19’, 2014), e em 2017 iniciou a rodagem da longa-metragem agora premiada.
Selecionado para mais de uma dezena de festivais, entre os quais Locarno, Milão, Busan, São Paulo e Viena, “O fim do mundo” conquistou o Prémio do Cinema Suíço 2020, assim como os galardões de melhor longa-metragem em Valladolid e Praia, e o de melhor fotografia no Les Arcs Film Festival.