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«Não há um romance cristão como não há uma arte cristã. Há, sim, cristãos na arte e na vida»

O que é mais importante (criar, manter, repensar) na relação da Igreja com a Cultura?

Recordo uma fotografia emblemática dos anos cinquenta que representa Graham Greene com François Mauriac. Ambos estão no auge do seu sucesso e aquele encontro representa as diferenças e as confluências das obras dos dois romancistas. A austeridade da fotografia a preto e branco esconde para todos os leitores dos dois celebrados escritores uma multidão de temas e de personagens. Com Greene vem-nos à memória o drama de “O Poder e a Glória” em que a Graça e o Pecado se encontram e desencontram - uma vez que o romancista britânico diz-nos que é na situação limite e no afrontamento do mal que a Graça se revela. O mesmo se diga de “Thérèse Desqueiroux”, em que Mauriac também afronta a humanidade pelo lado da presença constante de um confronto de resultado incerto entre o bem e o mal. Mas nessa fotografia austera e belíssima está presente um debate sempre inacabado - o de saber se há uma literatura cristã ou católica. Greene e Mauriac consideram-se, antes de tudo, romancistas. É verdade que são cristãos, é também certo que os valores dos Evangelhos estão bem presentes na sua escrita, ainda que muitas vezes façam questão de partir dos antípodas ou do avesso. No entanto não há um romance cristão como não há uma arte cristã. Há, sim, cristãos na arte e na vida - de Fra Angelico a Rouault. Mas como é bem evidente no inesperado encontro de Cristo com a samaritana do que se trata é de dar testemunho pela dignidade humana não numa sociedade formatada e perfeita, mas entre a imperfeição e a estranheza - porque o vento da Graça sopra onde menos se espera.

 

Este depoimento integra a edição de novembro de 2011 do "Observatório da Cultura" (n.º 16).

 

 

Guilherme d'Oliveira Martins
Presidente do Centro Nacional da Cultura
Publicado em 10.11.2011 | Atualizado (mudança de grafismo da página) em 03.06.2025

 

 

 
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