Igreja e Cultura
Igreja pode incluir «arte e sensibilidade» nos seus rituais e espaços sagrados
O que é mais importante (criar, manter, repensar) na relação da Igreja com a Cultura?
A questão é fundamental, como sempre foi. Basta ver o realce que o papa Bento XVI tem dado à cultura. No mundo de hoje a cultura ajuda-nos a repensar o lado temporal da Igreja e a ter um maior entendimento das nossas identidades, das transformações do mundo contemporâneo e das crises que atravessamos porque ela é uma dimensão absoluta do pensamento.
Aqui evoco sempre o meu professor Vitorino Nemésio, docente de História da Cultura Portuguesa na Faculdade de Letras de Lisboa, a quem nós, então alunos nos anos 60, perguntávamos sobre a matéria para o exame, e ele nos respondia: «Tudo aquilo que vocês souberem e tudo aquilo que eu souber». Ou seja, vamos desconstruir o conceito formal ou apenas intelectualmente superior de cultura e vamos aplicar-lhe a dimensão absoluta da nossa vida.
A Igreja em Portugal pode incluir nos seus rituais e espaços sagrados uma dimensão de arte e sensibilidade, em que as várias disciplinas do conhecimento sejam contempladas. Tem havido experiências novas, como a do padre Tolentino Mendonça, que na Capela do Rato passou a chamar pessoas da cultura e obras de arte de artistas plásticos para integrar no espaço de fé.
É também impossível não nos lembrarmos do encontro de Assis, em que o papa chamou pessoas não crentes para expressarem o seu pensamento sobre questões fundamentais como a paz, a justiça e a liberdade, que também são coordenadas de cultura no tempo em que vivemos.
Este depoimento, recolhido por telefone, integra a edição de novembro de 2011 do "Observatório da Cultura" (n.º 16). Leia mais respostas à pergunta.
Leonor Xavier
Escritora
© SNPC |
15.11.11
Capela Árvore da Vida
Foto: Nelson Garrido