A catequese de hoje faz referência ao Evangelho de Lucas. Com efeito, é sobretudo este Evangelho, desde as narrativas da infância, que descreve a figura de Cristo numa atmosfera densa de oração.
Nele estão contidos os três hinos que articulam diariamente a oração da Igreja: o “Benedictus” [1, 68-79, rezado pela manhã (Laudes), «Bendito o Senhor Deus de Israel / que visitou e redimiu o seu povo…»], o “Magnificat” [1, 46-55, ao final da tarde (Vésperas), «A minha alma glorifica ao Senhor/ e o meu espírito se alegra em Deus meu salvador…»] e o “Nunc dimittis” [2, 29-32, antes do descanso noturno (Completas), «Agora, Senhor, segundo a vossa palavra,/ deixareis ir em paz o vosso servo…»] (…).
Jesus é sobretudo um orante. Na narrativa de Lucas, por exemplo, o episódio da Transfiguração brota de um momento de oração: «Enquanto orava, o seu rosto mudou de aspeto e a sua veste tornou-se cândida e fulgurante».
Mas cada passo da vida de Jesus é como que impelido pelo sopro do Espírito, que o guia em todas as suas ações. Jesus ora no Batismo no [rio] Jordão, dialoga com o Pai antes de tomar as decisões mais importantes, retira-se muitas vezes na solidão, intercede por Pedro que pouco depois o negará (…).
Até a morte do Messias está imersa num clima de oração, tanto que as horas da paixão surgem marcadas por uma calma surpreendente: Jesus consola as mulheres, ora por aqueles que o vão crucificar, promete o Paraíso ao bom ladrão, expira dizendo: «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito». A oração de Jesus parece aliviar as emoções mais violentas, os desejos de vingança e de desforra, reconcilia o homem com a sua inimiga mais acérrima: a morte.
É sempre no Evangelho de Lucas que encontramos o pedido, exprimido por um dos discípulos, de poder ser educados pelo próprio Jesus à oração: «Senhor, ensina-nos a rezar».
Deste pedido nasce um ensinamento bastante extenso, através do qual Jesus explica aos seus com que palavras e com que sentimentos se devem dirigir a Deus.
A primeira parte deste ensinamento é precisamente o Pai nosso (…) O cristão dirige-se a Deus chamando-o antes de tudo «Pai». Na versão de Lucas desaparece o possessivo «nosso» e a especificação «que estais nos céus». Mas neste ensinamento que Jesus dá aos seus discípulos é interessante determo-nos sobre algumas instruções que fazem de coroa ao texto da oração. Elas insistem nas atitudes do crente que reza.
Há a parábola do amigo inoportuno, que vai perturbar toda uma família que dorme porque inesperadamente chegou uma pessoa de uma viagem e não há pão para lhe oferecer: «Digo-vos – explica Jesus – que, mesmo que não se levante para lho dar porque é seu amigo, ao menos pela sua impertinência levantar-se-á para lhe dar quantos sejam precisos».
E logo depois dá o exemplo de um pai que tem um filho faminto: «Qual pai entre vós, se o filho lhe pede um peixe, lhe dará uma serpente no lugar do peixe?» (…).
Com estas palavras, Jesus dá a entender que Deus responde sempre, que nenhuma oração ficará por escutar, que Ele é Pai e não esquece os seus filhos que sofrem.
É verdade que estas afirmações nos põem em crise, porque muitas das nossas orações parece que não obtêm qualquer resultado. Quantas vezes pedimos e não obtivemos, batemos e encontrámos uma porta fechada? Jesus recomenda-nos, nesses momentos, que insistamos e não nos demos por vencidos. A oração transforma sempre a realidade: se não mudam as coisas à nossa volta, pelo menos mudamos nós, muda o nosso coração. Jesus prometeu o dom do Espírito Santo a cada homem e cada mulher que ora.
Podemos estar certos de que Deus responderá. A única incerteza é devida aos tempos, mas não duvidemos de que Ele responderá. Talvez nos caiba insistir durante toda a vida, mas Ele responderá. Ele prometeu-o: Ele não é como um pai que dá uma serpente no lugar de um peixe. Não há nada de mais certo: o desejo de felicidade que todos temos no coração cumprir-se-á um dia. Diz Jesus: «Deus não fará porventura justiça aos seus eleitos, que gritam dia e noite para Ele?» (…). Que dia de glória e ressurreição será então esse!
Orar é desde já a vitória sobre a solidão e o desespero (…). É como ver cada fragmento da criação fervilhando no torpor de uma história que às vezes não entendemos o porquê. Mas está em movimento, a caminho, e no final de cada estrada (...) há um Pai que espera tudo e todos com os braços escancarados. Olhemos então este nosso Pai.