Há um gesto silencioso que acompanha continuamente o ministério do papa Francisco: a constante peregrinação a Santa Maria Maior, para se colocar em oração diante da imagem da “Salus populi romani”. Cada viagem, cada acontecimento importante da Igreja, ou como aconteceu nos últimos dias, cada provação pessoal, o papa Francisco leva-o aos pés da imagem de Maria guardada na basílica mariana mais antiga do mundo.
Os olhos erguidos para o ícone recordam os olhos de uma criança que fixa o rosto da sua mãe. E é precisamente assim que o papa nos recorda que cada alfabeto da fé, incluindo a devoção mariana, é antes de tudo uma relação viva e verdadeira com alguém vivo e verdadeiro.
A misteriosa comunhão dos santos que une a Terra ao Céu é o que faz de alicerce a certos gestos, a certas escolhas. A imagem para um cristão nunca é um ídolo, mas uma espécie de sacramental que reaviva a memória de um laço.
Como acontece tantas vezes que uma pessoa distante de quem ama tira fora das suas coisas uma imagem, uma carta, um objeto da pessoa amada, e através dele celebra no afastamento um laço que se tornou ainda mais forte com a distância, assim para nós, cristãos, certos gestos recordam-nos que não estamos sós e podemos constantemente confiarmo-nos a alguém que nos ama.
É antes de todos Cristo este alguém que nos ama e que nos disse que permanecerá connosco sempre até ao fim do mundo, e depois Maria, os santos, os nossos queridos defuntos. Estamos mergulhados numa rede de relações. Não estamos sós.
Vendo o papa, ocorre-nos perguntar se para nós também é assim. Se também para nós é verdadeira esta verdade de não estamos sós. Se também nóa temos gestos que nos recordem esta decisiva companhia do Céu nas coisas desta Terra.
Vendo o papa, perguntamo-nos se também para nós Maria é nossa Mãe, e se aproveitamos este laço para poder levar mais a sério o evangelho e ter mais coragem nas opções da vida.
Ao sair da policlínica Gemelli, e parando em Santa Maria Maior, o papa quis fechar o parêntesis daqueles dias com um gesto de gratidão e talvez também de confiança, não só para si próprio, mas também por todos aqueles rostos e aquelas história que cruzou nos corredores das unidades onde se dirigiu em visita.
Naquela paragem mariana esteve certamente a gratidão e a confiança, ingredientes fundamentais para poder enfrentar os desafios da vida. A gratidão é a memória do bem. A confiança é a memória de que a pessoa não se basta a si própria. Está toda aqui a atitude dos discípulos.
Papa Francisco | Basílica de Santa Maria Maior, Roma | 14.7.2021 | © Sala de Imprensa da Santa Sé