«Soube que nestes dias faltaram alguns médicos, sacerdotes, não sei se alguns enfermeiros, mas contagiaram-se, apanharam o mal porque estavam ao serviço dos doentes. Rezemos por eles, pelas suas famílias, e agradeço a Deus pelo exemplo de heroísmo que nos dão ao curar os doentes», afirmou o papa, ao introduzir a missa a que presidiu, esta manhã, no Vaticano.
Até hoje morreram, em Itália, 24 médicos que tratavam pessoas atingidas pelo Covid-19, elevando-se a quase 50 mil os agentes de saúde contagiados. O número de sacerdotes que perderam a vida, também devido ao coronavírus, aproxima-se agora da meia centena.
Na homilia, ao comentar o Evangelho proclamado nas eucaristias desta terça-feira (João 5,1-16), Francisco chamou a atenção para o pecado da acídia, estado de desânimo, fraqueza, tristeza, que se reflete, espiritualmente, na falta de desejo de aproximação e comunhão com Deus.
«A liturgia de hoje faz-nos refletir sobre a água, a água como símbolo de salvação, porque é um meio de salvação, mas a água é também um meio de destruição: pensemos no dilúvio… Mas nestas leituras, a água é para a salvação.
Na primeira leitura (Ezequiel 47, 1-9. 12), aquela água que conduz à vida, que cura as águas do mar, uma água nova que cura. E no Evangelho, a piscina, aquela piscina para onde iam os doentes, cheia de água, para se curarem, porque se dizia que, de vez em quando, as águas agitavam-se, como se fosse um rio, porque um anjo descia do céu para as agitar, e o primeiro, ou os primeiros, que se lançavam à água eram curados.»
«Muitos cristãos», à semelhança do homem da narrativa evangélica, que viveu 38 anos à beira das águas da piscina, à espera de ser curado, vivem num «estado de acídia, incapazes de fazer seja o que for, mas a lamentar-se de tudo. E a acídia é um veneno, uma névoa que rodeia a alma e não a faz viver», vincou.
Além disso, prosseguiu, «é também uma droga, porque se tu a experimentas muitas vezes, dá prazer. E tu acabas como um “triste-dependente”, um “acídia-dependente”. É como o ar. E isto é um pecado bastante habitual entre nós: a tristeza, a acídia, não digo a melancolia, mas aproxima-se».
«Far-nos-á bem reler este capítulo cinco de João, para ver como é esta doença na qual podemos cair. A água é para nos salvarmos. “Mas eu não posso salvar-me”; “porquê?”; “porque a culpa é dos outros”», observou.
«Pensemos na água, naquela água que é símbolo da nossa força, da nossa vida, a água que Jesus usou para nos regenerar, o Batismo. E pensemos também em nós, se algum de nós tem o perigo de deslizar para esta acídia, para este pecado neutral: o pecado do neutro é este, nem branco nem preto, não se sabe o que é. E este é um pecado que o diabo pode usar para aniquilar a nossa vida pessoal, e também a nossa vida de pessoas», alertou.
Francisco concluiu a celebração com a adoração e a bênção eucarística, convidando à comunhão espiritual.