Política, desemprego, arquitetura, desigualdade e Igreja constituíram alguns dos temas abordados esta quarta-feira por Nuno Teotónio Pereira durante a intervenção que proferiu em Lisboa, depois de receber o Prémio Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes.
Após receber a escultura de Alberto Carneiro e o cheque de 2500 euros, patrocinado pela Rádio Renascença, que compõem o prémio atribuído anualmente pela Igreja Católica para distinguir o diálogo entre fé e cultura, a primeira palavra do arquiteto recordou o padre Manuel Antunes.
A intervenção, caracterizada pelo vaivém entre passado e presente, prosseguiu com a lembrança da sua entrada na profissão: «Tive a sorte de trabalhar num período muito favorável ao trabalho de arquiteto».
Os tempos hoje são mais difíceis: «Como estamos penosamente a assistir, vivemos numa época de grande dificuldade para os arquitetos. Angustia-me ver muitos colegas sem trabalho e ateliers de arquitetura a fechar por falta de encomendas».
Nuno Teotónio Pereira contou a história da “canonização” do arquiteto Miguel Jacobetty, narrativa que provocou risos entre as cerca de 100 pessoas que assistiram à sessão.
O Movimento de Renovação da Arte Religiosa, de que Teotónio Pereira foi o primeiro presidente, apareceu numa «altura difícil» para os artistas, dado que o regime ditatorial quis condicionar a criatividade.
A arquitetura da habitação social contribuiu para que Nuno Teotónio Pereira se mantivesse atento «às desigualdades extremas de rendimentos, que infelizmente se verificam hoje muito fortemente em Portugal».
«É preciso lutar contra essas injustiças», frisou o arquiteto, que lançou um apelo ao inconformismo diante da crise económica em Portugal, que faz «muitas pessoas sofrer».
Nuno Teotónio Pereira recebe das mãos de D. Pio Alves a escultura "Árvore da Vida" | SNPC
A luta contra a ditadura, «perante a qual a Igreja era muitas vezes indiferente», e a pertença ao grupo dos denominados «católicos progressistas», foram também referidos por Nuno Teotónio Pereira.
O encontro, realizado na sala de conferências da igreja do Sagrado Coração de Jesus (1970), monumento nacional de que o premiado foi coautor, contou com a presença dos bispos que compõem a Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais – D. Pio Alves (presidente), D. João Lavrador e D. Nuno Brás (vogais) – bem como do prelado responsável pelas Forças Armadas e de Segurança, D. Januário Torgal.