Prémio de Cultura Padre Manuel Antunes
Distinção

Palma de Ouro de Cannes para Manoel de Oliveira

Manoel de Oliveira, Prémio de Cultura Padre Manuel Antunes 2007, é, desde ontem, o feliz possuidor de uma Palma de Ouro do Festival de Cannes. Dada "não por antiguidade, mas sim por estima e por admiração, pela obra e pelo homem", como frisou ontem Gilles Jacob, presidente do festival, antes de a entregar ao cineasta português, durante a cerimónia de homenagem que teve lugar no Théâtre Lumière do Palácio dos Festivais, para assinalar os cem anos do autor de Francisca, que em termos de calendário só serão cumpridos em Dezembro.

Agradecendo a honra, o realizador confessou-se: "Muito comovido pela Palma de Ouro que recebi finalmente, e gostei muito de receber assim, porque não gosto de competições, de estar a concorrer contra os meus colegas."

"Eis-me aqui, no meu centésimo ano. Durante 78 anos devotei-me a esta paixão que une todos nós: o cinema. É a minha vez de agradecer todas as mulheres e homens graças aos quais o cinema existe, é apreciado e preservado." Após algumas breves palavras de agradecimento, parte improvisadas, parte escritas, Manoel de Oliveira concluiu dizendo: "Cresci com o cinema e foi o cinema que me fez crescer. Viva o cinema!"

Antes, perante uma sala bastante cheia que nunca poupou palmas - e até deu alguns vivas - a Oliveira, o presidente do Festival de Cannes fez o elogio do homenageado, a quem tratou por "meu caro amigo". Segundo Gilles Jacob, Oliveira "conheceu o doce grito do silêncio" dado pelo cinema mudo, e por isso é "o último pioneiro do cinema, cuja história tem acompanhado". O cineasta português é também "o diapasão dos apaixonados do cinema de autor", e dedica-se incansavelmente ao "deboche da experimentação". Jacob chamou-lhe por isso "o mais jogador de todos os realizadores, que não tem medo de se pôr em perigo", de onde resulta uma obra "cheia de estranhas e sublimes metamorfoses".

No palco com Manoel de Oliveira e Gilles Jacob estiveram apenas Thierry Frémaux, director artístico do Festival de Cannes, que conduziu a homenagem e evocou outros dois centenários ilustres de 2008, Oscar Niemeyer e Claude Levi-Strauss; e Michel Piccoli, intérprete de vários dos filmes do realizador, a quem Oliveira se dirigiu jocosamente durante o seu discurso, chamando-lhe "meu amigo e meu inimigo".

A homenagem veio acompanhada pela surpresa de uma curta-metragem biográfica do realizador assinada por Gilles Jacob, Un Jour dans la Vie de Manoel de Oliveira. Nesse filme, Oliveira responsabiliza Chaplin, Hitchcock e Buñuel pelo seu código de ética cinematográfica. E fala do cartão que um dia lhe puseram no seu quarto de hotel em Cannes, não assinado, a reclamar que "o cinema é movimento" - por isso ele não teria o direito de fazer dos filmes uma sucessão de imagens paradas (Oliveira guardou a mensagem, certamente para um dia poder responder, e responde em Um Dia com o Manoel).

Na assistência, e além dos membros do júri desta 61.ª edição do Festival de Cannes, presidido por Sean Penn, encontravam-se, entre outros, a mulher e o neto de Manoel de Oliveira; o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, que à entrada da sala foi alvo de um sonoro "Durão oportunista!" em português, vindo do balcão; a ministra da Cultura e da Comunicação de França, Christine Albanel; o embaixador de Portugal em Paris, António Monteiro; João Bénard da Costa, presidente da Cinemateca Portuguesa; Clint Eastwood, que pediu expressamente para estar presente na homenagem; e o realizador romeno Cristian Mungiu, que no ano passado venceu o Festival de Cannes com o filme 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias.

 

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Eurico de Barros

in Diário de Notícias

Com: Vasco Câmara (Público) | rm

20.05.2008

 

 

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