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Quando a depressão chega aos padres

A Conferência Episcopal Francesa publicou, a 25 de novembro, um estudo inédito sobre a saúde dos padres diocesanos em atividade, que obteve 42% de respostas, num total de 6400 inquiridos. Entre os vários resultados apurados, conclui-se que, em 2020, 7,4% dos sacerdotes sofreram de depressão.

Durante o período do estudo realizado pela Union Saint Martin, encomendado pelos bispos católicos, dois padres suicidaram-se, a 21 e 23 de agosto, o que alarmou profundamente o episcopado.

Além do esgotamento (“burn-out”) severo que atinge 2% dos sacerdotes respondentes (todos com menos de 75 anos), a investigação revela que 45% declaram doença crónica, nomeadamente dores nas costas e cervicais.

A maioria dos padres realiza atividade física regular, mas cerca de 63% têm excesso de peso, e em 20% foi diagnosticada obesidade. Mais de 8% dos inquiridos têm risco crónico ou de dependência do álcool.

Metade dos sacerdotes vive só, o que, muitas vezes, aumenta a negligência em relação à sua saúde física e mental. E 40% consideram que o seu ministério não é acompanhado pessoalmente como deveria.



Falar de Deus não é académico. Quando o padre está só, a sua vida espiritual está em perigo. O laço entre o padre e os paroquianos distendeu-se, atualmente. O padre tornou-se “prestador de serviços”»



De acordo com o Episcopado, entre os «principais ensinamentos» do estudo está um estado de saúde «bastante satisfatório, mas uma mais forte prevalência de doença crónica, acentuada nos mais idosos».

Nota-se uma «forte prevalência dos estados depressivos qualquer que seja a idade, acentuada pelo isolamento no seu lugar de vida e a ausência de apoio (pastoral e material)», a par da fraca «realização pessoal» para 40% dos respondentes.

Regista-se, também, «forte prevalência do excesso de peso e da obesidade», problemas ligados ao abuso de álcool para dois padres em cada cinco são também destacados pelos bispos, que se congratulam com as «práticas preventivas», que, apesar de poderem ser melhoradas, «são de bom nível».

Para o P. Patrice Gourrier, psicólogo clínico que recebe, regularmente, sacerdotes em dificuldade, «os números [da depressão] são gigantescos». A doença, acrescenta, «é a consequência da perda de sentido do ministério do padre. O padre não é acompanhado. Ser padre, hoje, é extremamente difícil».

O sacerdote de 60 anos também aponta «uma falta de referências, para os padres, uma cacofonia eclesial. A Igreja católica está profundamente dividida, hoje».

«Há uma indigência na formação do padre ao nível espiritual, nomeadamente no Ocidente. Falar de Deus não é académico. Quando o padre está só, a sua vida espiritual está em perigo. O laço entre o padre e os paroquianos distendeu-se, atualmente. O padre tornou-se “prestador de serviços”», considera o sacerdote de 60 anos ouvido pelo jornal “Le Figaro”.



 

Rui Jorge Martins
Fontes: Conferência Episcopal Francesa, Le Figaro
Imagem: wombatzaa/Bigstock.com
Publicado em 12.12.2020 | Atualizado em 17.04.2023

 

 
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