À medida que Jesus avaliava o mundo em que estava, deve ter tido a plena certeza de que Deus era o único Senhor da História. Ele cresceu no Israel ocupado pelos romanos, na Galileia, uma região sob o controlo do rei Herodes, tirano cruel. A maioria das pessoas à sua volta era pobre, exceto os privilegiados e ausentes proprietários, e os aristocratas ricos que viviam, em Jerusalém, das receitas do templo e de um sistema tributário corrupto.
Ainda assim, Jesus sabia, no seu coração, que Deus era justo e o Senhor da história. Jesus tinha escutado, na leitura de Isaías na sinagoga (10,5-7;13b-16), como o profeta escarnecia dos assírios por se gabarem de controlarem o mundo. Sim, podiam invadir e destruir nações, e até levar o povo de Deus para o exílio, mas só porque Deus permitiu que isso acontecesse. Isaías lembra aos assírios que eles eram como o machado que se vangloriava daquele que o utiliza. Eram apenas instrumentos da vontade de Deus.
Mas Jesus tinha mais a dizer sobre a História. Louvou o Pai por dar sabedoria a quem é semelhante a uma criança, oculto aos fanfarrões e peritos (Mateus 11,25-27). As pessoas comuns é que eram o sal da Terra, os mansos que a herdam e, no fim de contas, decidem a História. Tolstói troçou de Napoleão numa das suas obras-primas, “Guerra e paz”, por pensar que poderia conquistar a Rússia. A invasão falhou porque uma roda de carroça partida diminuiu o avanço o tempo suficiente para garantir a vitória russa durante o frio inverno.
Muitas das grandes personalidades de ontem são hoje não mais que imagens granuladas cujos nomes esquecemos. Já os santos, heróis e profetas são lembrados: Gandhi, Luther King, Mandela, Dorothy Day, Óscar Romero, ou um homem chamado George Floyd, cuja morte projetou luz sobre seis mil vítimas de linchamentos que aguardavam reconhecimento.
Jesus completou a sua missão e entregou a vida numa cruz, confiando que o Pai traria uma vitória da justiça e amor, arrancada de um esforço brutal para silenciar a verdade e proteger um império que depressa seria pó levado pelo vento. A nossa participação na História depende de quem consideramos que comanda e do que acreditamos que é real e verdadeiro. Permanecer fiel a esses ideais e valores é tudo o que podemos fazer, mas é mais importante, no quadro geral, do que as ilusões dos ricos e famosos, ou da ostentação daqueles que pensam que estão a fazer a História acontecer.