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Religião e cultura pop é tema de revista copublicada pela Universidade Católica Portuguesa

«A interação entre a cultura pop e o religioso ocorre numa complexa relação que vai desde a tensão à hibridização (…). Os âmbitos de tangência, fusão ou conflituosidade entre estas duas esferas – o pop e o religioso – emergem seja pela absorção de linguagens e de referenciais iconográficos religiosos por parte da cultura pop, seja pela inscrição das comunidades religiosas nos dispositivos de uma cultura mediática.»

“Religião e cultura pop” é o tema da mais recente edição da revista “Rever – Revista de Estudos da Religião”, publicação quadrimestral resultante da parceria entre o programa de pós-graduação em Ciência da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e o Instituto de Estudos de Religião da Universidade Católica Portuguesa.

No editorial, Cátia Tuna e Rui Fernandes, que organizam este número da revista, sublinham que «as instâncias religiosas e o mundo pop apresentam-se como duas modalidades diferentes de estabelecimento de “alianças afetivas e emocionais” (…) e vinculam-se numa relação de concorrência: o pop emerge como um paradigma quase-devocional e quase-ritual alternativo e substituindo-se na tarefa de inscrição dos grupos juvenis numa mundividência que já não é do âmbito da memória mas do presente autogerado, permitindo uma multiconexão global».



«A pop reflete um olhar crítico sobre o mundo, umas vezes com a voz cínica de quem suspeita, outras vezes com instintos proféticos de quem exige uma utopia»



«Quando se procura a religião no pop confrontamo-nos com outra ideia estruturante das identidades pop: a de transgressão. Na cultura pop a lata herança das instituições religiosas já tornada cultura é desafiada a tornar-se também uma cultura em movimento, juvenil, urbana e global, numa trajetória em que as fronteiras dessas instituições são testadas. Estas posicionam-se em face da ética de consumo do pop, entre a interdição e a assimilação. Aquele, por seu turno, constitui-se como repositório de imagens religiosas, usado na construção da personalidade e do poder da superestrela, dos espetáculos emocionais e de outras experiências insuspeitas», acrescentam.

Os investigadores lembram que «na diversificada paisagem do pop, intercetam-se diferentes coordenadas existenciais. Como consumidores, a pop recompõe a identidade, oscilando entre o ser-se crente e o ser-se fã. Enquanto agentes, a pop reflete um olhar crítico sobre o mundo, umas vezes com a voz cínica de quem suspeita, outras vezes com instintos proféticos de quem exige uma utopia».

«A cultura pop é um dos principais fenómenos culturais de nosso tempo. Ela está enraizada no cerne de um conjunto muito complexo de sistemas que perfazem a vida humana: os tráfegos de sentido, os trânsitos e os intercâmbios culturais, a economia, a globalização, o mercado, os meios de comunicação, as indústrias culturais e as indústrias criativas, a criação artística etc., o que, por consequência, acaba incidindo diretamente na forma como nós, seres humanos, em nossos diferentes contextos, nos organizamos cultural, política e socialmente, como participamos da vida social, como interagimos virtualmente e fisicamente, como cremos e compartilhamos nossas experiências religiosas, como projetamos nosso futuro, como e sobre o que pensamos acerca de nós mesmos, a vida e o mundo, como nós consumimos determinados bens, artefatos, símbolos, sentidos etc.», aponta Iuri Andréas Reblin, doutorado em teologia.

Os 11 artigos da secção temática investigam «vários géneros musicais (desde o rap à música gospel…), obras literárias (como As crónicas de Nárnia”) ou filmes (como “Parasita” e “O poço”). Focam os casos de algumas experiências, tradições ou comunidades religiosas específicas de territórios diversos (desde Lisboa, a Campinas e aos Estados Unidos da América), incidem sobre pressupostos hermenêuticos ou assumem um âmbito de análise mais preciso (como o domínio da História ou das questões de género)».

“Método cartográfico-crítico para análise de artefactos da cultura pop a partir da área de ciências da religião e teologia”, “Do sermão ao rap: análise da relação entre catolicismo e hip-hop no contexto cultural norte-americano”, “Hiphopcalipse: percursos e discursos de rappers evangélicos na Grande Lisboa” e “Teodiceias em ‘O senhor dos anéis’” são alguns dos artigos deste fascículo, de acesso livre e gratuito, que contempla âmbitos que «emergem como de certa forma inéditos na abordagem nos amplos cruzamentos entre os universos pop e religioso».


 

Rui Jorge Martins
Imagem: Favete/Bigstock.com
Publicado em 08.10.2023

 

 

 
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