Já há muito que o Vaticano está a trabalhar para cumprir o compromisso ambicioso do papa Francisco de reduzir a zero as emissões líquidas da cidade-estado antes de 2050, com a instalação de painéis solares, o recurso a automóveis elétricos ou luzes de baixo consumo, iniciativas com as quais quer enviar uma mensagem ao mundo.
Antes do convite do papa à «conversão ecológica», feito na encíclica “Laudato si’” (2015), já o Vaticano tinha instalado, sete anos antes, painéis solares no teto de um dos seus principais e mais modernos edifícios, o auditório Paulo VI, espaço para mais de seis pessoas, onde decorrem audiências gerais e outros encontros.
A impressionante e moderna instalação que cintila ante o mármore dos cinco séculos da basílica de S. Pedro é composta por 2 200 placas fotovoltaicas ativas e igual número de passivas, que funcionam como refletores de luz, produzindo uma potência de 215 kw, e que permitem uma poupança de 250 mil kg de CO2 anualmente.
A energia produzida pelo edifício é dirigida integralmente para a rede interna do Vaticano, e cobre totalmente a energia para a iluminação e climatização necessária durante os atos do papa.
Por agora só se pôde realizar esta instalação de energia solar devido ao alto valor artístico dos restantes edifícios e às dificuldades arquitetónicas colocadas pela colocação de painéis em telhados que não foram concebidos para os suportar.
A transição ecológica do Vaticano é também manifestada na renovação da frota de veículos, com a aquisição de automóveis elétricos e a instalação de dez colunas de carregamento em vários locais – um recorde para um país de meio km quadrado.
Os silenciosos jardins da cidade-estado constituem quase metade da sua área, e neles também foram implementados avanços tecnológicos na otimização do uso dos recursos hídricos, com o circuito fechado nas fontes e a eliminação de todos os pesticidas e fertilizantes de origem química.
Foram instalados vidros duplos, por exemplo no Arquivo Apostólico, janelas que favorecem o baixo consumo de energia, e anteparas que impedem a introdução da carga térmica e poupam custos relativos à refrigeração.
Se no exterior dos edifícios históricos as intervenções são difíceis, no interior muito tem sido realizado. Por exemplo, em 2014 a capela Sistina passou a ter iluminação por LED, o que implicou a redução de 60% em despesas energéticas e emissões de gases de efeito de estufa, a par do abrandamento do envelhecimento dos frescos.
A basílica de S. Pedro também passou a contar com luzes led, que requerem uma potência de 12w, em comparação com os 70w instalados anteriormente, e para a praça homónima, com uma poupança de energia de 70%.
A vontade expressa pelo papa de reduzir a zero as emissões em 2050 estimulou os técnicos a prosseguir os projetos já iniciados e a atualizá-los: «Por exemplo, continuando a apostar nas energias renováveis, diminuir o consumo de energia, implementar tecnologias limpas com projetos como o da mobilidade elétrica e os pontos de carregamento, com os quais temos uma margem de crescimento enorme», afirma o responsável pela Direção de Infraestrutura e Serviços do Vaticano.
Outro âmbito do modelo sustentável que o espanhol Rafael García de la Serrana Villalobos quer aplicar é o da «economia circular»: «A ideia e filosofia é que os resíduos não são desperdício, mas um valor que temos de aprender a reutilizar», como os «resíduos sanitários», que podem ser convertidos em «fontes de energia».
A diferenciação dos resíduos, fomentada pela instalação de um ecocentro, chegou a 46% em 2016, e o objetivo é elevar esse número para 75% em 2023, e 99% no caso de resíduos especiais.
Além disso, foi trocada a central térmica por outra de alto rendimento, e substituíram-se todas as subcentrais térmicas, renovaram-se os postos elétricos de média tensão, e desde 2019 está garantido que toda a eletricidade provém de energias renováveis.
O responsável sabe que o modelo seguido pelo Vaticano no contexto mundial é ínfimo, mas está convicto da influência da mensagem a nível planetário, ao estimular a preocupação e sensibilidade para o ambiente.
«Os nossos números contribuem pouco, mas o que contribuímos é com capacidade de colaboração. Muitos destes projetos têm sido feitos com empresas fora do Vaticano, e estas colaborações enchem-nos de satisfação. O papa, com a sua encíclica, impeliu a pessoas a colaborar», declara.