O co-realizador do filme "Russa", distinguido este sábado com o prémio Árvore da Vida, atribuído pela Igreja católica no festival de cinema independente IndieLisboa, dedicou o galardão aos habitantes do Bairro do Aleixo, no Porto.
«Este prémio é de uma grande importância, não pelo filme mas pela luta do Bairro do Aleixo, pela história daquelas pessoas, pela sua resistência. É uma grande felicidade, e este prémio é para o Bairro do Aleixo», declarou o brasileiro Ricardo Alves Jr. ao receber a distinção.
O Bairro do Aleixo tornou-se conhecido da generalidade dos portugueses devido à implosão de duas das cinco torres de 13 andares, ordenadas pelo executivo camarário, em dezembro de 2011 e abril de 2013.
Realizado em parceria com o português João Salaviza, o documentário-ficção (2018, 20'), que integrou a secção de curtas-metragens do festival de Berlim deste ano, resulta de uma residência artística que os cineastas fizeram no Porto, a convite da autarquia.
«Russa volta ao Bairro do Aleixo no Porto, visitando a irmã e os amigos com quem celebra o aniversário do filho. Neste breve encontro, Russa regressa à memória coletiva do seu bairro, onde três das cinco torres ainda se mantêm de pé», lê-se na sinopse do filme.
Para o diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, a presença da Igreja católica no IndieLisboa manifesta a sua «coerência» com a consideração que diz «atribuir à arte na formação integral do ser humano».
«Penso que este prémio também confirma a importância que atribuímos à busca de caminhos inovadores na arte cinematográfica como forma particular de procurar acessos mais sedutores a graus superiores da consciência humana», afirmou José Carlos Seabra Pereira, que entregou a distinção a Ricardo Alves.
O responsável sublinha que «não se trata tanto um prémio concedido numa perspetiva de critérios confessionais, mas é uma aposta num apoio e incentivo à busca de criatividade sem fronteiras, num encontro com os caminhos do humanismo cristão».
«A Igreja não faz mais do que a sua obrigação em abrir-se à criação contemporânea em Portugal porque tem vindo a dar-se conta, crescentemente, de que a arte é um espaço de fronteira na afirmação do conhecimento e da criatividade do ser humano», assinalou.
José Carlos Seabra Pereira frisou que a aposta do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, que atribuiu o prémio no valor de dois mil euros, «tem sido sempre a de uma poética da espiritualidade».
«Neste sentido há uma poética do cinema que nos pode ajudar, e muito, a crescer nessa poética da espiritualidade», concluiu.