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Diálogo inter-religioso

138 responsáveis muçulmanos escrevem ao Papa

Que 138 teólogos muçulmanos de diversos países e tendências escrevam ao Papa e a outros responsáveis cristãos, constitui já, só por si, um acontecimento. A mensagem surge um ano depois da missiva de 38 intelectuais muçulmanos a Bento XVI, no seguimento do seu discurso de Ratisbona.

Esta segunda carta, assinada por mais cem pessoas – número simbólico – é também significativa pelo facto de ter juntado sunitas e shiitas. E, ao contrário da primeira, de índole reactiva, pretende iniciar o diálogo. O P. Étienne Renaud, professor no Instituto Pontifício de Estudos Árabes e Islâmicos, refere que “no Islão, o consenso dos responsáveis – o «Ijmaa» - é uma fonte importante de autoridade, depois do Corão e da Tradição".

Mais do que abordar o tema da violência, a mensagem parte do amor: amor por Deus e pelos homens, fundamento que ambas as religiões têm em comum. A palavra “amor”, no entanto, não é muito utilizada no Corão, não fazendo parte dos 99 nomes dados a Deus. A carta agora escrita coloca sob a expressão “amor de Deus no Islão” o que é geralmente apresentado como obediência a Deus. Como se os muçulmanos desejassem aproximar-se dos cristãos no plano da linguagem.

Outra surpresa consiste no facto de os autores examinarem como este amor de Deus se exprime no Antigo e no Novo Testamento. Reconhecendo que os cristãos têm igualmente um Deus único, não retomam a acusação geralmente feita a propósito da Santíssima Trindade, isto é, o facto de os cristãos crerem em Deus Uno e Trino.

A mensagem passa seguidamente à questão do amor ao próximo; citando Maomé, o documento sublinha que a crença em Deus está ligada ao amor pelos demais, na mesma medida do amor a si próprio.

A carta propõe aos cristãos uma palavra comum, lembrando que “o Profeta Maomé não trouxe nada de fundamentalmente novo” em relação à mensagem de Cristo.

O documento pede aos cristãos para considerarem os muçulmanos “não contra eles, mas com eles”, na condição de que não lhes seja declarada guerra por causa da religião, não os oprimam nem os expulsem da sua terra natal – uma alusão à Palestina e ao Iraque.

A missiva convida as duas religiões a uma “competição” no amor ao próximo: “Cristãos e muçulmanos constituem mais de 55% da população mundial, o que faz da relação entre estas duas comunidades religiosas o mais importante factor de contribuição para o estabelecimento de uma paz significativa no mundo”.

A conclusão da carta, sublinhada com um versículo do Corão, é um apelo ao reconhecimento pelas duas religiões de um pluralismo, não somente de facto, mas de direito, dado que a diversidade é entendida como vontade divina: “Se Deus o tivesse querido, teria feito de vós uma única e mesma comunidade; mas Ele quis pôr-vos à prova, para ver o que cada uma fará daquilo que Ele lhe concedeu”.

La Croix / CNS

Publicado em 15.10.2007

 

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