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Identidade

Arte Sacra Corporal?

A moda não é nova, embora em Portugal ainda não se tenha feito notar muito. As tatuagens com motivos religiosos são uma presença cada vez maior no nosso meio.

Sempre me fascinaram as tatuagens. Ao contrário de muitas pessoas, acho de uma beleza enorme e respeitável a devoção que leva alguns a marcar a pele com uma imagem que ficará lá para sempre.

Julgo que é impossível negar que haja uma dimensão sagrada nesta arte. A tatuagem é para uns o que a medalha à volta do pescoço é para outros. Indispensável nalguns casos, um mero adorno noutros. Depois há aqueles, como eu, que admiram tanto os que carimbam as suas crenças na pele, como aqueles que se carregam de fios de ouro para mostrar a devoção a Deus, mas que optam por se manter à distância de ambos os campos.

Falei numa dimensão sagrada, e disse-o com toda a convicção. Há algo de religioso no homem que tatua na sua pele a data e o local onde serviu e combateu, vendo morrer irmãos de companhia. Por mais que nos possamos rir quando vimos uma imagem tosca debaixo de um “Angola 67”, há algo que somos obrigados a respeitar.

O mesmo se pode dizer da pessoa que tatua o nome de um amigo ou parente que morreu. Até as tatuagens de clubes de futebol traduzem a dimensão do amor e da devoção a que pode chegar o clubismo.

É claro que existem tatuagens dispensáveis, patéticas mesmo. Penso nisso cada vez que vejo uma rapariga com um golfinho tatuado na omoplata. Mas também existem imagens de arte sacra verdadeiramente deploráveis, como qualquer visita aos quiosques em Fátima poderá comprovar.

A dimensão sagrada das tatuagens não se resume à sacralização de coisas profanas, desde a pátria ao clube de futebol ou mesmo à marca de mota que conduzimos. Existe também a dimensão religiosa, no verdadeiro sentido da palavra. Aí é que as coisas se tornam interessantes!

A tatuagem religiosa é ancestral, mesmo a cristã não é um fenómeno novo. Entre os cristãos orientais, nomeadamente da Índia, Etiópia e Egipto existe mesmo uma venerável tradição nesse sentido. Isto apesar de haver uma proibição expressa no livro do Levítico 19:28 “Não fareis incisões na vossa carne por um morto, nem fareis figura alguma no vosso corpo. Eu sou o Senhor.” A história, como sempre é mais complexa.

Durante as perseguições romanas, nem todos os cristãos encontrados eram condenados à morte. Alguns eram condenados a trabalhos forçados e a sentença de “Cristão” era-lhes tatuada na cara. Depois de Constantino esta marca tornar-se-ia um distintivo de fé que se usava com orgulho.

Existem relatos de crianças com tatuagens de cruzes na testa para as proteger de espíritos malignos no século VI, e mais tarde é introduzida uma distinção entre tatuagem pagã e tatuagem cristã, sendo esta última digna de algum louvor.

Hoje em dia, com o fantástico progresso nesta forma de arte, existem cada vez mais tatuagens com motivos religiosos. Naturalmente nem todas se restringem ao cristianismo, mas estas são a grande maioria.

Existem já associações de tatuagens cristãs, e diversos sites com imagens de tatuagens de natureza religiosa. Alguns exemplos podem ser encontrados aqui. Nossa Senhora é um tema que acolhe particular devoção, mas Santa Teresinha também tem os seus admiradores. Outros, simplesmente escolhem imagens mais típicas de devoção.

Seja qual for a nossa opinião acerca desta forma de expressar fé e crença, temos que concordar que merece respeito, e um pouco de admiração. O mundo das tatuagens religiosas ainda é, para muitos, um planeta diferente a descobrir.

Filipe d'Avillez

© SNPC

 

 

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Foto: tatuagem

www.religioustattoos.net

















































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