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Cinema

«Adoration» vence Prémio do Júri Ecuménico em Cannes

Realizado por Atom Egoyan, «Adoration» venceu o Prémio do Júri Ecuménico do Festival de Cannes de 2008.

É a 12.ª longa-metragem do realizador, onde podemos reencontrar os temas que tecem a maior parte dos seus filmes: as diferenças entre a aparência e a realidade, a natureza subjectiva da verdade, uma estrutura narrativa fragmentada, múltiplos pontos de vista, personagens complexas, laços subterrâneos que compõem uma família.

De origem arménia, Atom Egoyan nasceu no Cairo e cresceu no Canadá. Interessou-se desde sempre pela forma como comunicamos, bem como pelo papel da tecnologia nessa comunicação. Em «Adoration» explora a natureza da nossa relação com os meios de comunicação e com a tecnologia, perscrutando os seus efeitos sobre a construção da nossa identidade e intimidade.

Uma das fontes de inspiração do filme foi a leitura de um artigo datado de 1986, que noticiava o facto de um jordano ter colocado uma bomba na bagagem de mão da sua namorada irlandesa, grávida, quando esta se preparava para viajar num voo da companhia israelita El Al. A jovem desconhecia a existência do engenho explosivo até que os serviços de segurança o detectaram.

A narrativa do filme segue Simon, um adolescente que utiliza a Internet para se apresentar como vítima daquela história. Desta mentira vai nascer uma comunidade composta por colegas de turma e de sobreviventes, que tem como núcleo uma tragédia que não existiu. A história oscila entre o esquema terrorista desfeito e as suas repercussões na vida actual de três personagens, em Toronto.

Para muitos, «Adoration» fala da necessidade de encontrar objectos e lugares que tenham um sentido profundo e verdadeiro, em oposição ao sentido superficial proveniente das respostas que o protagonista recebe pela Internet. Simon cresce numa época em que se inventam pseudónimos e onde se criam outras identidades através dos avatares dos videojogos.

A palavra ao realizador: “Nos anos 80, a sociedade estava claramente dividida entre aqueles que tinham acesso à criação de imagens e aqueles que não eram senão espectadores. O que acontece vinte anos depois é que todos podem fabricar imagens e transmitir os seus pensamentos. Habituámo-nos a esta ideia de partilhar as nossas ideias com o mundo, mas a nossa capacidade de concentração diminuiu. É uma das dificuldades que Simon tem de enfrentar.”

O filme, de 1h40, interroga-se sobre a procura da identidade, numa época em que os percursos pessoais são comprimidos e digeridos por uma cultura que avança em modo de «fast forward».

Para compreender a realidade houve sempre o recurso às mitologias para explicar o universo. Os objectos e as ideias que antigamente eram consideradas sagradas são hoje re-formatadas e re-adoradas de uma maneira totalmente inimaginável na geração precedente.

O filme apresenta ao espectador diferentes objectos de adoração. Alguns são antigos. Outros são novos e perigosos. Cada personagem vai reavaliar o sentido das relações humanas que estão no coração da sua vida.

“Um adolescente, Simon, com uma história familiar complexa, procura a sua identidade. Ele tem de ultrapassar os lugares-comuns e os preconceitos culturais. A sua história pessoal, discutida na sala de aula, estala nos fóruns da Internet. No encontro com os seus próximos, tem de enfrentar mental e emocionalmente as questões que lhe são colocadas.

É através da reconciliação com a sua história que o jovem se constrói.

Utilizando objectos simbólicos tradicionais ou actuais, o realizador convida-nos a avaliar de uma maneira nova as ideias preconcebidas sobre o «Outro» estranho à nossa cultura, à nossa religião.” (Comunicado de imprensa do Júri Ecuménico).

 

Veja o «trailer»  

Texto: Dossier de imprensa

© SNPC (trad.) | 28.05.2008

 

 

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