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Música

Padre lança CD com orações populares

Diário de Notícias
João Baptista

É um padre jovem e arejado que não dispensa o computador portátil no dia-a-dia. Usa a Internet, o correio electrónico, para comunicar com os paroquianos. Já aderiu ao hi5, onde mantém uma intensa actividade, em torno de vários grupos de jovens, desde os que se preparam para a Crisma aos escuteiros. O padre Ricardo Mónica faz agora a sua estreia a solo no mundo da música, com o lançamento do CD "(En)Cantos", marcado para o próximo dia 1, em Alpiarça.

Embora este seja já o terceiro trabalho discográfico em que participa, não se vê como um artista da canção, ou como um novo padre Luís Borga, de quem é, aliás, amigo e sucessor como chefe regional dos escuteiros do distrito de Santarém.

"O padre Luís Borga faz um trabalho excelente de evangelização, usando a música para passar a mensagem, eu pretendo deixar registadas as orações populares que eram cantadas pelos camponeses de Almeirim, tradição oral que corria o risco de se perder", disse ao DN o padre Mónica.

O CD "(En)Cantos" resultou de uma recolha etnográfica realizada nos anos 50 por Álvaro Rodrigues. São orações que eram tradicionalmente cantadas à capela pelos trabalhadores nas fainas agrícolas nos campos da lezíria de Almeirim ou com acompanhamento instrumental aos domingos e dias de festa.

Ricardo Mónica, de 39 anos, é pároco das freguesias da Várzea, Moçarria e Abitureiras, no concelho de Santarém, apenas há quatro anos. Uma vocação tardia que descobriu "num momento da vida em que fazemos um balanço da nossa vida e pensamos no que ela deveria ser". Estudou Gestão de Empresas, mudou para Recursos Humanos, e trabalhou na área da formação até entrar para o Seminário, aos 27 anos de idade. "Nunca pensei em ser padre, entrei para o Seminário para ver o que aquilo ia dar e acabei por me formar."

O gosto pela música popular vem dos tempos de infância em que assistia aos trabalhos no campo, na antiga quinta dos seus pais em Almeirim. Faz parte do Rancho Folclórico da Casa do Povo de Almeirim desde os 14 anos e participou na gravação dos dois CD do grupo. "Entrei no rancho para cantar, mas depois comecei a dançar, que é o que gosto mais", disse ao DN o padre Mónica.

A ideia de gravar agora este novo disco surgiu de um desafio de uma amiga, no âmbito da campanha de apoio à Liga Portuguesa contra o Cancro que está decorrer em Almeirim, com espectáculos e vendas de produtos para a angariação de fundos. O lançamento do CD vai ter lugar , no dia 1 de Março, durante um jantar-leilão, na Quinta da Torre, em Almeirim. Todas as receitas reverterão para a Liga.

 

O Mirante
António Palmeirim

No dia 1 de Março o padre das paróquias de Várzea, Moçarria e Abitureiras, Santarém, lança um CD de orações populares cantadas pelos antigos trabalhadores agrícolas cujos lucros das vendas são para a Liga Portuguesa contra o Cancro.

O padre, natural de Almeirim, é um interessado pela etnografia. Em pequeno gostava de andar no campo com os trabalhadores da quinta dos seus pais. Aprendeu algumas canções e agora, para que a tradição não se perdesse, resolveu gravá-las e oferecer os lucros da venda do trabalho à Liga Portuguesa contra o Cancro.

Ricardo não quer ser mais um cantor, nem sequer um concorrente de outros padres artistas da canção. Como o padre Borga, pároco no Entroncamento. “São coisas diferentes. Não quero ser um artista. O meu objectivo é que as orações antigas que eram cantadas no campo não se percam”. O trabalho resulta de uma pesquisa e de algumas orações cantadas dos anos 20 que tinham sido registadas pelo apaixonado pela etnografia de Almeirim, Álvaro Pina Rodrigues, já falecido. No CD são utilizados os instrumentos tradicionais da época: ferrinhos, cana e bandolim.

“O padre Borga é mais um cantor de espectáculos e o meu trabalho é mais para preservação da memória de um povo”, diz Ricardo Mónica que é padre há quatro anos e tem consciência que actualmente o facto de um CD ter na capa a designação “padre” é uma forma de marketing que ajuda a vender. “Canto por prazer e para me divertir, não quero fazer disto uma carreira”, sublinha, realçando que o que quer é ser padre a tempo inteiro e que as canções são um passatempo que podem servir de evangelização.

No CD há orações que são acompanhadas por um grupo de amigos, como as “excelências” que ainda hoje há muitos católicos que as sabem cantar. Ricardo aparece em fotografias na capa do CD vestido com o fato de dançarino do Rancho Folclórico da Casa do Povo de Almeirim, do qual faz parte. Apesar da veia artística, o pároco confessa que quando andava no seminário não o deixavam cantar porque dava a entoação do fado. É um apaixonado por este género musical e algumas vezes vai a Lisboa cantar em casas de fado. Houve duas que já lhe propuseram contratos para fadista residente, mas declinou porque quer ser livre e não estar sujeito àquilo que lhe querem impor.

O padre acredita que deve haver muitas pessoas que não gostam que agora seja também conhecido como cantor, porque, realça, “só conseguem ver a evangelização por um lado, são pessoas que entendem que os padres são só para os que estão dentro da igreja”. Ricardo Mónica, padre há quatro anos, confessa que falou informalmente com o bispo de Santarém sobre este projecto e que foi o próprio D. Manuel Pelino Domingues que o incentivou a continuar o trabalho de recolha de orações antigas.

O CD, que foi gravado no Auditório da Biblioteca Municipal de Almeirim, vai custar 15 euros.

 

25.02.2008

 

 

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Padre Ricardo Mónica
Foto: Luís Lobo Henriques
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