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Liberdade religiosa

Os crentes unidos na construção da paz

No termo do III Colóquio Internacional «O Contributo das Religiões para a Paz», organizado pela Comissão da Liberdade Religiosa nos dias 23 e 24 de Junho, em Lisboa, recordamos as palavras de João Paulo II na mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1992.

O Papa lembrou que "a religião, se é autenticamente vivida, não deixará de produzir frutos de paz e fraternidade, porque está na sua natureza promover um vínculo cada vez mais estreito com a divindade e favorecer um relacionamento sempre mais solidário entre os homens”.

A aspiração da paz inscreve-se no coração de toda a pessoa, pelo que ela ocupa um lugar relevante nos livros sagrados das religiões monoteístas: para os Cristãos, é Jesus Cristo; para os irmãos hebreus, a harmonia do homem consigo próprio, com a natureza e com Deus é indicada pela palavra «shalom»; e para os fiéis muçulmanos um dos Nomes de Deus é «salam».

A paz fundamenta-se sobre a oração intensa, confiante, humilde e perseverante, através da qual o Altíssimo pode ser encontrado; é a partir dessa união que cresce a interioridade, desvenda-se o significado da nossa presença no mundo e se promove o amor ao próximo. Mais: a oração diante de Deus, Senhor e Paz do mundo, é o vínculo que une a humanidade, superando as desigualdades, incompreensões e hostilidades. Por isso ela é um contributo fundamental para a paz. Será portanto uma aberração que as religiões, ou grupos de seguidores, caiam em violências justificadas por motivações religiosas. Assim, João Paulo II convida os crentes a realizarem um exame de consciência que os predisponha a escutar a voz do “Deus da paz”.

A Igreja, não esquecendo as diferenças entre as religiões, reconhece que não raramente elas reflectem raios de verdade, pelo que deverá haver uma colaboração a nível inter-religioso, e particularmente ecuménico, a fim de que a oração não se esgote em si, antes produza gestos concretos, que muitas vezes são mais eficazes se realizados de modo coordenado. Hoje as religiões estão mais conscientes das suas responsabilidades no que diz respeito ao bem da humanidade, tendo aumentado a sua determinação em não se deixarem instrumentalizar por interesses particulares.

Falta, no entanto, percorrer um longo caminho: o conhecimento mútuo; a reconciliação fraterna; a colaboração convergente para a mesma causa, ainda que em sectores restritos ou secundários; a convivência na partilha de esforços para alcançar o mesmo objectivo. A construção da paz só pode ser concretizada com um equilíbrio interior expresso na serenidade, equilíbrio, domínio das pulsões, perdão e doação generosa.

Foto
João Paulo II no Encontro Inter-religioso de Assis, 1986

A oração e a acção em favor da paz não podem esquecer os valores essenciais para assegurar a dignidade de cada pessoa, que passam por assegurar os direitos à vida, à estima, aos bens necessários, ao trabalho e à justa repartição dos bens. Estes valores encontram o seu coroamento no preceito supremo da caridade: ‘Ama o teu próximo como a ti mesmo’ (Mt. 22, 39).

O Estado deverá assegurar o respeito pela consciência religiosa de cada pessoa e pelas próprias religiões, evitando a tentação de se aproveitar delas para as manipular em favor próprio, nomeadamente aquando de conflitos militares.

A última palavra do João Paulo II, destinada aos cristãos, recorda a promessa de Jesus – “Deixo-vos a paz, dou-vos a Minha paz” – para afirmar a possibilidade da paz, porque a Deus nada é impossível (1). Os desafios do mundo contemporâneo, em particular o da paz, devem ser enfrentados em conjunto com todos aqueles que partilham valores próximos, a começar pelos de ordem religiosa e moral. Dar passos nessa estrada comum é viver desde já no espírito das bem-aventuranças: “Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (2).


(1) Cf. Lc 1, 37.
(2) Mt 5, 9.

rm

© SNPC | 25.06.2008

 

 

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