O culto do Divino Espírito Santo está bem vivo e nas mãos dos jovens
Numa noite em que a chuva não quis perder a festa, cerca de duas centenas de pessoas juntaram-se no Império dos Inocentes da Guarita para a tradicional Ceia dos Criadores, em Angra do Heroísmo.
A comissão deste ano conta com cinco pessoas com uma média de idades de 30 anos, contrariando a ideia que os mais jovens estão algo desfasados desta celebração.
Miguel Azevedo, um dos Mordomos deste ano, refere que “já tivemos aqui comissões mais jovens, o problema é manterem-se ligados ao Império devido às dificuldades de entendimento entre mais velhos e mais novos. Julgo que não é por má vontade, as vezes é preciso compreender que para os mais velhos os impérios são como se fossem a sua segunda casa”, admitindo que a comissão gostaria de voltar a repetir esta experiência que apelida de “muito divertida e onde se fica ligado às tradições de outra forma, aprendemos coisas sobre o culto do Espírito Santo todos os dias”.
Sobre as festas deste ano, o Mordomo congratula-se pelo facto de ter sido possível reunir quase 200 pessoas na noite da Ceia dos Criadores, ainda para mais num ano “em que morreu muita gente na Rua da Guarita e circundantes e houve algum custo das pessoas se chegarem ao Império, mas penso que viram que o ambiente estava como dantes e conseguimos tê-las cá”, comenta, orgulhoso.
Apesar da boa participação popular neste Império, o mesmo não se passa em muitos outros dentro da cidade. Segundo o Padre Francisco Dolores isso deve-se à despovoação de Angra do Heroísmo, onde “existem ruas que tão a ficar sem ninguém, já não existe o Império da Rua de Santo Espírito e o da Rua da Boa Nova está resumido ao terço por falta da população”.
Oração, partilha e festa
O culto do Divino Espírito Santo pode-se dividir em três fases, assinala o Padre Dolores – Oração, Partilha e a Festa.
A Ceia dos Criadores enquadra-se na partilha. Os criadores, se deram carne para o Império, são os primeiros a ser convidados a partilhá-la juntamente com o pão, o vinho e as sopas do Espírito Santo, com toda a gente que participou e colaborou com o Império, um momento diferente das Funções já que estas “são a promessa de um jantar feita por um Mordomo no dia da Coroação”, esclarece o sacerdote. “Antigamente era a oportunidade para as pessoas, especialmente nas freguesias rurais, mas também na cidade, comerem carne, fora isso só nos casamentos ou no Natal, o mesmo se passava com o pão branco que a grande maioria da população só comia por esta altura. A esmola do Espírito Santo - com a bênção e entrega de carne, pão e vinho aos mais pobres, feita normalmente à sexta-feira, era um grande benefício”, recorda Francisco Dolores.
A oração com o Terço do Espírito Santo ao longo dos oito dias que a Coroa está no Império desde o cortejo da mudança até ao dia da coroação (normalmente um domingo), é outro dos momentos centrais do Culto, onde as pessoas vão agradecer pelo ano que passou e rezar pelos mortos.
A terceira vertente, segundo o Padre Dolores, prende-se com a festa em si, à moda antiga com os foliões, “aqui mais com o Pezinho e os cantadores ao desafio”, refere o pároco.
As filarmónicas são outra parte importante da festa, especialmente nos cortejos e na Terceira existe ainda um elemento fundamental - as touradas, “ que costumam marcar o encerramento das festas e que aqui são à corda, que foi a forma encontrada para se brincar com os touros de forma a que toda a população pudesse participar.
Renato Gonçalves
in A União
28.07.2008
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