Viagens

Festas, feiras e romarias de comboio

“A edição de um roteiro com as principais festas, feiras e romarias nacionais tendo como meio principal de deslocação o Comboio pretende recuperar o espírito de peregrinação do viandante doutros tempos, para quem a viagem, geralmente em grupo, assumia tanta importância quanto o próprio evento que motivava a deslocação.

Para curtas ou longas distâncias, o Comboio também proporciona ao viajante dos nossos dias a busca da aventura na viagem, permitindo-lhe observar novas terras ou revisitá-las com outro olhar, e contactar com novas gentes que constituem os seus vizinhos de viagem. Com segurança, rapidez e conforto. Tudo isto ingredientes que, como outrora, antecipam e potenciam o clima de festa.”

São estas as primeiras palavras do Guia Festas, Feiras e Romarias de Comboio, lançado recentemente pela CP e pelas Edições Inapa. Dividida em dez partes, de acordo com as linhas de caminho de ferro, a obra propõe um roteiro que descreve algumas das principais festas, feiras, romarias e outros eventos que se localizam num raio de 15 quilómetros em torno das regiões servidas pela ferrovia. O trajecto inicia-se na Linha do Minho, continuando pelas linhas do Douro (Tâmega, Corgo e Tua), Norte e Vouga, Beira Alta, Beira Baixa, Oeste, Leste, Sintra e Cascais, Alentejo e Sul e Algarve.

Festa das Cruzes, Barcelos

A leitura do livro, composto por fotografias e breves textos alusivos a cada evento, proporciona um olhar abrangente sobre alguns dos pólos de atracção cultural do país, constituindo um convite à viagem num meio de transporte que oferece, em segurança, conforto e descanso, a possibilidade da descoberta de novos caminhos, paisagens e encontros.

Um outro motivo de interesse da obra reside no facto de, num relance, o leitor ficar a conhecer, ainda que resumidamente, a origem e as características de várias festas de carácter religioso.

Vejamos, por exemplo, o que se escreve sobre a Festa das Cruzes, que se realiza em Barcelos a 3 de Maio, e que é servida pela estação da cidade:

“Tendo por epicentro o tempo do Bom Jesus da Cruz, erigido no local onde a tradição indica a ocorrência de um milagre no longínquo ano de 1504, a Festa das Cruzes representa a principal celebração colectiva de Barcelos. Os tapetes de flores naturais, executados para a ocasião, enquadram o templo e a passagem do grande cortejo religioso que se segue pelas ruas da cidade, em que estão representadas as 89 freguesias do concelho, neste aspecto o maior do país. As festividades são completadas com programas que incluem a actuação de ranchos folclóricos, grupos musicais, cantares ao desafio, zés-pereiras, corridas de cavalos e espectáculos de fogo-de-artifício à beira do rio Cavado, entre outros atractivos.”

Comboio a vapor sobre o Rio Tua

Já em Mirandela, “as Festas de Nossa Senhora do Amparo, [de 25 de Julho ao primeiro domingo de Agosto], celebram a padroeira da cidade transmontana (…). São organizadas por uma confraria própria, representante da comunidade local. marcadas espiritualmente pela procissão em honra da santa, pela procissão das velas e pela realização das novenas, as festas são ainda animadas com a noite dos bombos, a marcha luminosa de carros alegóricos, o fogo-de-artifício e a música, culminando no tradicional leilão das flores que engalanaram os andores”. Mirandela é servida pela Linha do Tua, recentemente reaberta, que oferece paisagens só por si justificam a viagem.

Descemos agora a Elvas, onde em Setembro se realizam as Festas do Senhor Jesus da Piedade e a Feira de São Mateus. “Missas, romarias e a procissão dos pendões, em que participam as principais agremiações religiosas, civis e militares da cidade e que chega a ter alguns quilómetros de extensão, abrem os tradicionais festejos (…), que prosseguem com espectáculos musicais e pirotécnicos, provas desportivas, exposições, arraiais, animação de rua, mostras gastronómicas e outras actividades que fazem a fama das festas, em Portugal e em Espanha.”

Num comboio todas as histórias e sentimentos são possíveis: "Não há ninguém que vá à portinhola de uma carruagem que não se emocione com o espectáculo deste fluir constante de aspectos e não compreenda melhor o que são os fugitivos momentos da nossa passagem vertiginosa pelo mundo", escreveu Guerra Junqueiro.

Numa viagem de comboio os sentidos retêm casas, flores e azulejos, pontes e viadutos, carruagens que serpenteam, pessoas e bagagens, reencontros e olhares, paisagens que o asfalto desconhece. Embarcamos?

rm

19.02.2008

 

 

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