Mais de 50 Impérios evocam o Divino Espírito Santo
As festividades em honra do Espírito Santo na Terceira englobam as funções, as coroações, as esmolas, os terços, as alcatras, as sopas e o arroz doce, sem deixar de lado o alfenim e a massa sovada ou cevada.
O historiador Maduro-Dias salienta o facto de na ilha Terceira, com 33 freguesias e paróquias, existirem e funcionarem mais de 50 Impérios. "Há até um, fantástico para mim, que apenas existe pintado num muro na Praia da Vitória, mas que funciona tão bem como os outros. O que não é de estranhar já que o que interessa, de facto, em tudo o que diga respeito ao Paráclito, é a possibilidade de partilhar, mostrando uma capacidade de conviver, de dar e receber, nossa e abençoada, apesar do muito que a vida tem mudado e da pressa que tudo envolve".
"Perguntam-se sempre por uma explicação - continua o seu raciocínio -, pede-se sempre uma espécie de cartilha para se poder entender e, se calhar, participar nas festas mais queridas da Terceira. Ora convém deixar claro que as festas ao Divino são um pouco como o jazz. (Explico-me!). No famoso género americano existe um tema e os músicos. Há uma liberdade criativa controlada apenas pela melodia e pelo espírito geral dos que estão envolvidos na execução da peça, de tal modo que todos sabem o que fazer. Nas festas ao Divino é também, de algum modo, assim. Com o tempo, desde o povoamento, cada freguesia foi introduzindo pequenas ou médias mudanças naquilo que é a base aceite e respeitada por todos. Por isso é bom que se cuide quem resolver afirmar na praça pública que a festa é deste ou daquele modo, porque há variantes infindas, pormenores a respeitar, e o melhor é perguntar aos guardiões do costume - os mais velhos - como é que se faz."
Maduro-Dias adianta que o ritual difere entre a Ribeirinha e S. Brás. Muda das Fontinhas para S. Bartolomeu e por aí adiante em redor da ilha. "Contudo, a generalidade aponta para uma semana em que o terço é rezado em casa do mordomo ou junto de quem saiu a sorte de 'ter o Senhor Espírito Santo em casa'. Neste período, prepara-se a comida da festa, habitualmente sopa, cozido, alcatra e arroz doce. Faz-se também vinho, pão de água, de leite e massa doce. É uma semana de incrível canseira, mas acompanhada de um sorriso permanente".
"Quando se chega ao Domingo atinge-se o ponto alto e o fim do ciclo nessa família ou casa. Há a coroação do Imperador na igreja, a função onde se recebem os amigos (é aí que aparece a alcatra, em toda a sua glória ritual), a distribuição de esmolas e a passagem da coroa e insígnias para a casa do imperador seguinte ou mordomo. E volta tudo ao princípio. Por isto tudo, é fácil deduzir que o Divino Paráclito é presença constante a cada esquina na ilha Terceira. Sejam esquinas de história passada ou de memórias dos mais velhos, sejam esquinas de ruas e de vidas cruzadas em dias de hoje", afirma Maduro-Dias.
Tibério Cabral
14.05.2008
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