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Festas e romarias

Interesse renovado pela religiosidade popular

Num momento em que está cada vez mais saturado o mercado do chamado turismo “sol e praia”, parece existir um interesse renovado pelas práticas turísticas que atendem á marca do religioso, envolvendo o conhecimento do património construído, das culturas locais e regionais, com as suas festas e romarias tão típicas do Verão.

A religiosidade popular (conjunto de práticas simbólicas de raiz popular) é um facto que acompanha a vida da Igreja Católica e que a acompanhou durante séculos. Trata-se de expressões, gestos, atitudes, que manifestam uma relação pessoal com Deus: beija-se a cruz, participa-se numa peregrinação, ajoelha-se diante do túmulo de um mártir ou um santo, conservam-se restos do seu corpo ou dos seus vestidos. No caso português é esta religiosidade que, sob uma aparente unidade enraizada no catolicismo, manifesta mais fielmente a pluralidade da sociedade portuguesa na vivência do sagrado.

Habitualmente a religiosidade popular afirma-se em contraposição à oficial, sendo entendida por muitos como uma forma híbrida, isto é, formas inadequadas de entender e praticar a religião oficial. Em Portugal, por exemplo, as crenças populares incluem, ainda hoje, um conjunto de crenças e gestos mágicos oriundos do paganismo celta.

É difícil precisar onde foram os portugueses encontrar este “imaginário”, este “fantástico”, este culto do sagrado, com uma estruturação rigorosa do espaço e do tempo e onde avultavam as grandes festas da Primavera e do Outono. É neste contexto de assimilação das crenças e antigos ritos pagãos, que se perpetuaram ao longo dos séculos na tradição oral, que se deve buscar a origem da maior parte dos ritos e crenças que definem a religiosidade popular.

As festas populares, manifestações colectivas, as crenças e ritos de devoção particular, são as grandes marcas da religiosidade popular no nosso país. Nas festividades populares, com ou sem relação com o ritual oficial e, muitas vezes, com origem em cultos naturalísticos, é possível encontrar manifestações particulares, por vezes com carácter mágico.

A atenção especial aos sinais da natureza como a água, a terra, a luz, o céu, fascinou desde sempre as pessoas. A religiosidade popular, cósmica e natural, pode servir, no caso da Igreja Católica, para compreender melhor a utilização de sinais e gestos simbólicos que expressam uma componente profundamente humana e religiosa. Por isso, tem sido sempre chamada a atenção para uma verdadeira integração entre a liturgia e a piedade popular, como aconteceu na liturgia da Igreja dos primeiros séculos, com algumas celebrações, e na liturgia romana da Idade Média, com as procissões, ladainhas e outros ritos, assumidos em forma de culto.

O catolicismo, assumindo uma dimensão universal, não pretende ser uma religião de elites. A sua história faz-se dentro dos povos, com os seus membros diversificados, a sua tradição e cultura, a sua história e os seus projectos.

Os sectores do Turismo e do Património devem entender que, no campo religioso, todas estas dimensões estão presentes e devem ser descodificadas e valorizadas. Só respeitando e dialogando se pode ajudar a crescer.

O povo português tem uma longa ligação à tradição, sobretudo os meios mais populares e aldeãos, com a permanência e sobrevivência de aspectos da religiosidade popular, em muitas festas e celebrações, contudo, o aspecto folclórico tende a sobrepor-se a este fundo de significações e memórias: a dimensão religiosa está mais colocada ao lado, mas é importante que continue; é necessário garantir o aspecto religioso na festividade, como uma manifestação de júbilo da comunidade.

Num período de globalização, em que tudo parece ser igual e em que há a tendência para uniformizar a cultura, há uma forte necessidade das comunidades se identificarem. E essa identificação faz-se, precisamente, através da reviviscência das suas tradições, fundamentalmente ligadas ao religioso, que nenhum responsável pela área do Turismo ou do Património deve ignorar.

Obra Católica das Migrações

in O Mensageiro, 28.08.2008

05.09.2008

 

 

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