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História e memória

Cardeal Patriarca de Lisboa, Presidente da Comunidade Israelita e Presidente da edilidade da capital inauguram Memorial

No próximo dia 22 de Abril, às 11h00, o Cardeal Patriarca de Lisboa, o Presidente da Comunidade Israelita e o Presidente da Câmara de Lisboa inauguram, no Largo de S. Domingos (Baixa de Lisboa), os Memoriais evocativos do massacre de judeus ocorrido na cidade há cerca de 500 anos, do gesto de “purificação da memória” celebrado por D. José Policarpo no Ano Jubilar de 2000 e, por fim, da dedicação do Largo, pela Câmara, aos valores da tolerância e da reconciliação.

A cerimónia será pública, e as comunidades da Igreja Católica na cidade de Lisboa são convidadas a fazer-se representar.

O memorial da Igreja Católica será constituído por duas colunas de pedra unidas por uma faixa em metal, onde estarão inscritas as palavras pronunciadas no Largo de S. Domingos pelo Cardeal Patriarca de Lisboa no âmbito do encontro inter-religioso “Oceanos de Paz” (26/9/2000).

 

A matança da Páscoa

A chamada “Matança da Páscoa” ocorreu em 1506. Entre duas e quatro mil pessoas terão sido mortas por serem judias. O país e a cidade viviam um período de seca prolongada com surtos de peste quando, a 19 de Abril, alguém na igreja do Convento de S. Domingos, na baixa de Lisboa, afirmou ter visto o rosto de Cristo iluminado sobre um dos altares – sinal auspicioso da misericórdia divina e de futura bonança. Outro circunstante terá duvidado, considerando tratar-se de um simples reflexo do sol. Imediatamente identificado como cristão-novo, foi agredido pela multidão e espancado até à morte.

Um frade dominicano inflamou ainda mais os ânimos, prometendo 100 dias de indulgências a quem matasse os hereges. Durante três dias dessa Semana Santa, bandos de cidadãos percorreram Lisboa, pilhando, violando e matando judeus convertidos ao cristianismo na sequência do decreto real de 1497.

A corte estava fora da capital e as primeiras tentativas do rei D. Manuel para controlar a situação revelaram-se infrutíferas, até que a morte de um seu escudeiro, vítima dos tumultos, precipitou o envio de tropas reais, que puseram cobro aos desmandos. O rei mandou confiscar os bens dos responsáveis, o dominicano envolvido foi condenado à morte e o Convento terá sido fechado durante alguns anos.

 

Gesto de "purificação da memória"

No ano 2000, decorriam os preparativos para o encontro interreligioso “Oceanos de Paz”, promovido pelo Patriarcado de Lisboa, a Comunidade de Santo Egídio e a Fundação Mário Soares, quando os organizadores depararam com um problema. Estava previsto que o cortejo final, através da Baixa da cidade até à Praça do Município, partisse do Largo de S. Domingos, mas o representante da comunidade judaica manifestou o seu desagrado pelo ponto de partida, atendendo às memórias do massacre associadas ao local.

A dificuldade foi superada quando o Cardeal Patriarca de Lisboa propôs um gesto e umas palavras de reconciliação, na linha da “purificação da memória” pedida por João Paulo II para esse Ano Jubilar. O abraço dado aos rabinos presentes e as palavras pronunciadas tiveram uma repercussão na comunidade judaica, bem para lá dos participantes no encontro.

 

Os Memoriais

Nos 500 anos da “Matança da Páscoa”, a Comunidade Israelita de Lisboa propôs à Câmara o descerramento de um pequeno memorial no Largo de S. Domingos. A Igreja Católica prontificou-se a acompanhar essa proposta com um memorial do gesto e das palavras de reconciliação do Cardeal Patriarca de Lisboa no ano 2000.

Entregues na Câmara de Lisboa em 2006, os projectos não tiveram andamento. Foi a actual Câmara, sensibilizada para a sua existência, que pediu às respectivas comunidades que introduzissem de novo as suas propostas e as aprovou por unanimidade.

Patriarcado de Lisboa

11.04.2008

 

 

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