Vemos, ouvimos e lemos
Leitura

Monjas Dominicanas: Presença, Arte e Património em Lisboa

O presente volume, concebido no âmbito das Comemorações do VIII Centenário da Fundação da Ordem dos Pregadores (1207-2007), visa contribuir para o estudo integrado dos mosteiros dominicanos do ramo feminino que existiram, ou ainda existem, na cidade de Lisboa.

Esses imóveis, porque constituem uma parcela do nosso património comum que é muito mal conhecida, e porque preservam trechos relevantes de uma memória monacal que urge ser revelada, serviram de tema para uma abordagem interdisciplinar de largo espectro que reuniu, durante mais de dois anos, um conjunto de estudiosos unidos pelo objectivo de dar a conhecer parcelas de uma história esquecida.

Assim, através de uma série de ensaios e outros estudos devidos a historiadores de diversos ramos, são focados nestas páginas significativos aspectos históricos, religiosos, culturais e artísticos da vida consagrada nos conventos femininos desde o século XIII até ao nosso tempo. Esses estudos, organizados segundo perspectivas inovadoras e com base em fontes documentais e artísticas em boa parte inéditas, enfocam os vários ângulos da vivência monacal, desde os aspectos inerentes à arquitectura e à vida interna dos cenóbios, ao equipamento artístico das igrejas e dos demais espaços monacais, à produção literária, à música sacra e ao teatro gerados à sombra da vida de recolhimento, à iconografia e ao hagiológio cultivados no seio da Ordem, à questão do culto das relíquias que era privilegiado nestas casas, às festividades cíclicas e, ainda, aos heroísmos e também às misérias a que a vivência monacal inevitavelmente se associou em várias fases da História, ligada às intolerâncias religiosas ou à repressão inquisitorial. Figuras brilhantes como o tratadista, teólogo e pensador Frei Luís de Granada e a poetisa Soror Violante da Cruz surgem nestas páginas a par da polémica «freira que fazia chagas», Soror Maria da Visitação, inspiradora de Camilo e de Agustina em notáveis romances... No essencial, desenha-se um quadro de existência de mulheres empreendedoras, num mundo quase sempre devotado ao estudo teológico, à austeridade da disciplina e ao fervor devocional e que, por isso, merece ser dado a conhecer aos estudiosos e ao público em geral.


Fachada principal da Igreja do Colégio do Bom Sucesso

Como é do conhecimento comum, a Ordem dos Frades Pregadores, fundada por São Domingos de Gusmão (1170-1221) em 1207, com aprovação do Papa Inocêncio III em 1215 e com confirmação do Papa Honório III em 1216, foi estabelecida em território português por volta de 1217 através de Frei Soeiro Gomes, um antigo companheiro do santo fundador a quem coube a responsabilidade de estabelecer em Montejunto, perto de Alenquer, o primeiro núcleo monacal de dominicanos, virado para a pobreza mendicante, para o estudo e para uma vida em fidelidade à regra monástica. A este primeiro mosteiro se seguiriam as poderosas sedes de Alenquer e de Santarém, esta última tão ligada à forte personalidade do doutor parisiense São Frei Gil, que seria o Provincial de Espanha da Ordem dos Pregadores. A primeira casa do ramo feminino nasceu em data remota (c. 1219), em Chelas, sítio nos arrabaldes de Lisboa, utilizando-se um espaço que pertencera antes aos frades hospitalários. A partir deste mosteiro, as fundações de monjas domínicas multiplicaram-se, chegando a atingir cerca de duas dezenas à data da extinção das ordens religiosas pelo governo liberal em 1834.


Altar lateral, Igreja do Bom Sucesso

Entretanto, a Congregação das Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena, instituto da Ordem Terceira dominicana fundado em 1868 por Teresa de Saldanha, visou assegurar ocupação condigna aos edifícios devolutos da Ordem dos Pregadores que as leis do Liberalismo ameaçavam de ruína, caso dos conventos do Salvador e do Sacramento em Lisboa, assim evitando que parte substancial desses acervos domínicos se dispersasse e perdesse, como aconteceu, malogradamente, no caso de Santa Joana, entre outros. Aliás, só devido ao labor dessa Congregação de Santa Catarina de Sena a restauração do ramo feminino de clausura da Ordem viria a ser possível a partir de 1932, data em que davam frutos os trabalhos da Madre Maria Inês, fundadora do mosteiro da Divina Eucaristia, em Azurara (Vila do Conde). O mosteiro de monjas contemplativas do Lumiar, que subsiste no coração de Lisboa, é criado em sequência deste novel esforço de restauração do seu ramo feminino.


Altar de Nossa Senhora do Bom Sucesso, Igreja do Bom Sucesso

Seguindo as próprias vicissitudes da História de Portugal e da prática mendicante no seio da Ordem dos Pregadores, divididos entre fases de maior laxismo e outras de extremos de rigor no cumprimento da Regra de São Domingos, a expansão do ramo feminino alargou-se no fim do século XIV ao Mosteiro do Salvador, fundado na capital do Reino, e que vem efectivamente afirmar, em clima de Contra-Reforma, o primado da regra original, sem aceitação das dispensas anteriores. A partir da Dinastia de Avis-Beja e até ao século XVII, catorze novos conventos femininos se criaram em Portugal, desde Évora (Santa Catarina de Sena, em 1490, e Nossa Senhora do Paraíso, em 1516), a Leiria (Sant'Ana, 1498), a Montemor (Nossa Senhora da Saudação, 1506), a Aveiro (Anunciação, 1519), a Setúbal (São João Baptista, 1529, e São Sebastião, 1566), a EIvas (Nossa Senhora da Consolação, 1540), a Abrantes (Nossa Senhora da Graça, 1541), a Moura (Nossa Senhora da Assunção, 1566), a Braga (Santíssimo Sacramento, 1607), a Viseu (Nossa Senhora da Oliva, 1640) e a Guimarães (Santa Rosa, 1680), sem esquecer que em Lisboa nasciam, entretanto, os mosteiros de Nossa Senhora da Rosa (1521) e das Dominicanas Irlandesas do Bom Sucesso (1639), este último abrigando uma comunidade de monjas fugidas da Grã Bretanha em tempo de ferozes perseguições religiosas. Mais se sabe que, em 1763, eram dezoito as casas religiosas de dominicanas existentes em Portugal, cobrindo de modo equilibrado toda a paisagem metropolitana portuguesa de norte a sul.


Crucifixo do altar-mor , Igreja do Bom Sucesso

Este livro foi estruturado em duas partes fundamentais e relativamente autónomas - uma primeira, com quinze ensaios de âmbito pluridisciplinar sobre diversos aspectos da vivência dos mosteiros de dominicanas que existiram em Lisboa ao longo dos séculos, e uma segunda parte com o historial artístico das oito casas monacais em referência, quer as existentes quer as já desaparecidas (a saber, os conventos do Salvador, de São Félix, da Anunciada, da Rosa, do Sacramento, de Santa Joana, do Bom Sucesso e de Santa Maria do Lumiar). Todos estes mosteiros são aqui analisados em termos do seu historial, da sua fundação, da sua implantação, das suas obras construtivas e de recheio - existentes, destruídas ou deslocadas -, das suas figuras de maior projecção monástica e, ainda, das componentes do património artístico que envolveram.


S. Tomás de Aquino, Igreja do Bom Sucesso

O património histórico, artístico e espiritual da Ordem dos Pregadores passa a ser, assim, melhor conhecido através do estudo sistematizado de uma das suas componentes - o acervo das várias casas femininas de Lisboa -, contribuindo para uma adequada preservação de existência e para novos focos de investigação dirigida.


Nossa Senhora do Bom Sucesso, Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso

 


Claustro, Colégio do Bom Sucesso

 


Altar-mor, Igreja do Bom Sucesso

 


São Domingos (Arq.º Luís Cunha), Mosteiro de Santa Maria do Lumiar

 


Portal nobre, Mosteiro de Santa Maria do Lumiar

 


Altar rústico, Mosteiro de Santa Maria do Lumiar

 


Mosteiro de Santa Maria do Lumiar

 


Lagar e pia de lagar, Mosteiro de Santa Maria do Lumiar

in Monjas Dominicanas - Presença, Arte e Património em Lisboa, ed. Aletheia

18.02.2009

 

Subscreva

 

Topo | Voltar | Enviar | Imprimir

 

 

barra rodapé

Capa

Monjas Dominicanas
Presença, Arte e Património em Lisboa

Autor
Monjas Dominicanas do Lumiar (coord. executiva); Ana Cristina da Costa Gomes, José Augusto Mourão, José Eduardo Franco, Vítor Serrão (coord. científica)

Editora
Aletheia

Páginas
245

Data
2008

ISBN
978-989-622-153-9

Edição mais recente do ObservatórioOutras edições do Observatório
Edição recente do Prémio de Cultura Padre Manuel AntunesOutras edições do Prémio de Cultura Padre Manuel Antunes
Quem somos
Página de entrada