Novas edições de Il Dolcimelo, Sete Lágrimas e The Paschall Brothers

Vilancicos do Século XVI

Quem ouviu Il Dolcimelo em algum dos concertos “O Jardim das Delícias – música italiana de c. 1600”, pode perceber a extrema delicadeza posta num trabalho que, sendo o de um grupo “amador”, repousa sobre o profissionalismo dos seus componentes – instrumentais e vocais. Essa sensibilidade volta a estar presente neste primeiro registo discográfico do grupo português, que resolveu começar pelo princípio: o Natal, pois claro. Canções ibéricas dedicadas ao Menino e à Virgem, todas de autores e cancioneiros do século XVI são aqui reunidas por um grupo que se dedica sobretudo à música do Renascimento e do início do Barroco. O repertório escolheu canções que utilizam o português, castelhano, catalão e já não o latim. Excertos de dois autos de Gil Vicente dão o tom à música: “Humana e divina rosa, porque o Senhor é contigo./ (…) Alta senhora, tua santa humildade te deu tanta dignidade que um filho conceberás da divina eternidade…”

Intérpretes: Il Dolcimelo
Edição: Numérica

On The Right Road Now

Os Paschall Brothers, fundados em 1981 por Frank Paschall e cinco dos seus filhos, oferecem neste disco um conjunto de temas de sonoridade gospel recriada ou de composição contemporânea. A criatividade manifesta a “tradição dinâmica”, na expressão de Joyce Marie Jackson. O gospel sempre foi capaz de se renovar, não só pela recriação de composições antigas como pela realização de novas peças. E não se trata apenas da música, mas dos temas poéticos escolhidos. Membros da Igreja Metodista Episcopal Africana, os Paschall Brothers trazem para este disco o louvor da Bíblia, a alegria de viver, o humor e a extraordinária versatilidade da voz.

Título: On The Right Road Now
Intérpretes: The Paschall Brothers
Edição: Smithsonian Folkways, 2007
Mais informações: MC Loja de Discos

Kleine Musik

Depois do primeiro disco dos Sete Lágrimas, “Lacrimae # 1”, esta nova obra coloca em diálogo Heinrich Schutz, compositor alemão luterano do século XVII, com Ivan Moody, inglês ortodoxo do século XXI. As peças de Schutz são retiradas de dois pequenos concertos espirituais, num tempo que coincide com a Guerra dos Trinta Anos. “Sempre considerei impressiva a música de Heinrich Schutz”, escreve Moody. Impressiva na forma como “o estoicismo aparente esconde tanta riqueza e, não menos importante, uma triunfante proclamação de fé”. O diálogo entre ambos os compositores funciona como um espelho, como o próprio Moody reconhece, e traduz uma proximidade musical que atravessa séculos, num jogo de rara beleza em que o ressalta o mistério de Deus.

Intérpretes: Sete Lágrimas
Edição: Murecords
Correio electrónico

Este artigo foi publicado no «site» da Revista «Além-Mar».

António Marujo

in Além-Mar

24.06.2008

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