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Inculturação

O povo cigano precisava da mensagem de Cristo

“A Igreja Evangélica chegou ao povo cigano por volta dos anos 60, através da Igreja Filadélfia, esta evangelizou
a maioria do povo cigano em Portugal e em Espanha.” É deste modo que o apóstolo Nuno Castela, responsável pela comunidade do Ministério do Monte Santo, em Casal do Marco, explica as origens desta corrente do cristianismo em Portugal.

Diferentes formas de compreender o ministério levaram a cisões na Filadélfia e ao surgimento, entre outras, desta igreja. É surpreendente a forma como o cristianismo evangélico penetrou um povo tradicionalmente
resistente à mudança e a influências exteriores: “Numa pesquisa que fiz, 80% da comunidade cigana em
Portugal diz-se evangélica”, explica o apóstolo.

Contam-se pelos dedos de uma mão os não ciganos presentes nesta celebração de cerca de uma centena de
almas.

O Sr. António, secretário da igreja, explica que “qualquer pessoa é bem-vinda aqui, mas isto está estruturado
para ciganos”. Pensativo, acaba por rematar: “É bom que assim seja, porque o povo cigano estava a precisar muito de receber a palavra de Cristo”.

Ao longo da celebração, três pastores sucedem-se no palco.

Cada frase termina com um “Aleluia” ou um “Glória a Deus”.

A palavra é o centro das meditações, quase todos os presentes carregam uma Bíblia. Após uma breve reflexão, o orador termina com um grito: “Somos o povo mais feliz à face da Terra!”. Quem observa a alegria estampada em todos os rostos dificilmente poderá discordar.

Por fim, surge Nuno Castela. O apóstolo garante aos fiéis que lhes vai transmitir a chave do sucesso. Desengane-se quem espera grandes segredos, a tão desejada chave encontra-se em Mateus 9:9: “Partindo Jesus dali, viu sentado na colectaria um homem chamado Mateus, e disse-lhe: Segue-me. E ele, levantando-se, o seguiu”.

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A partir desta passagem, vêm as recomendações. “Nós os ciganos” explica o apóstolo, “muitas vezes, temos
medo do sucesso”. Não há que ter medo de estudar, não há que resistir a prestar contas, trabalhar sob as ordens de outros. “Deus pôs em mim o propósito de mudar a mentalidade do povo cigano” explica.

É chegada a fase mais peculiar do culto. O apóstolo invoca sobre os fiéis o Espírito Santo. Alguns tremem, outros sucumbem ao êxtase. Todos cantam ou rezam. O Sr. António aproxima-se para falar com os jornalistas, quer contextualizar, explicar o que se está a passar. Teme que a sua igreja seja confundida com uma seita: “Acreditamos que quem tem fé cura-se, mas quando estamos doentes não deixamos de ir ao médico”.

O culto termina por entre aplausos. Vários ciganos sorridentes vêm agradecer a presença do Página 1, oferecendo bênçãos, orações e votos de felicidades.

Mais tarde, na privacidade do seu gabinete o apóstolo sorri quando confrontado com a hipótese de um cristianismo cigano: “Não há uma espiritualidade própria cigana no sentido Igreja. O que acontece é que o cigano é muito místico. Tudo o que é místico, tudo o que é espiritual, abraça com toda a força, com todo o coração, e entrega-se de forma absoluta. O povo cigano está a abraçar com ousadia, e até com alegria, esta mudança de mentalidade, do misticismo para a verdadeira espiritualidade cristã”.

 

Veja o vídeo da reportagem

Filipe d'Avillez

Texto originalmente publicado na Página 1 (Rádio Renascença) autor

27.06.2008

 

 

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Foto© Paul Almasy/CORBIS




































































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