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As raízes católicas de Amanda Gorman, a poeta que discursou na tomada de posse de Joe Biden

Muito antes de irromper nos holofotes públicos ao dizer o seu poema na tomada de posse de Joe Biden, Amanda Gorman foi ovacionada de pé por paroquianos da igreja de Santa Brígida, em Los Angeles, por recitar um poema que escreveu sobre a sua paróquia.

E a 20 de janeiro, os paroquianos que viram nos seus ecrãs a mais jovem poeta convidada a ler na tomada de posse presidencial a dirigir-se aos líderes políticos e à nação em geral sobre a corajosa reconstrução do país, aplaudiram-na ainda mais.

Floy Hawkins, antiga diretora de educação religiosa da paróquia durante mais de 20 anos, afirmou que o seu telefone não deixou de tocar após a cerimónia, com amigos seus a perguntar-lhe se tinha visto, ouvido ou sabia algo sobre o papel de Amanda. E também houve muitas postagens no Facebook e Instagram.

E embora estivessem entusiasmados com Amanda, os fiéis da historicamente negra paróquia não viram a sua intervenção como se tratasse da performance de uma solista, porque a jovem esteve sempre na comunidade com a sua irmã gémea, Gabrielle, e sua mãe.

Hawkins sentiu precisamente essa sensação de família quando as câmaras seguiram Amanda a ir ter com a sua mãe depois de concluir as suas palavras, que tiveram o ponto alto no poema “A colina que subimos”. Que momento para a nossa fé católica e para a nossa cultura afroamericana, pensou.



Ao entrar na Universidade de Harvard, em Cambridge, estado do Massachusetts, Amanda, hoje com 22 anos, recebeu uma bolsa de estudos da paróquia



O pároco de Santa Brígida, P. Kenneth Keke, também não viu apenas Amanda aquele momento, mas sentiu que representava toda a comunidade do centro-sul de Los Angeles, predominantemente afro-americana, mas com um número crescente de latinos, filipinos e brancos.

«Somos uma comunidade; aqui são todos importantes. Tudo o que pertence à paróquia pertence a todos; na nossa paróquia, o sucesso de qualquer um é o sucesso de todos», acentuou.

O sacerdote vindo da Nigéria sublinhou que a comunidade «tem muito orgulho» em Amanda. e falou do que, pessoalmente, pensa dela: «Ela é uma jovem muito, muito inteligente. A primeira vez que a vi, soube que um dia seria muito importante». Este orgulho é exibido na página da paróquia e nas suas redes sociais, com imagens da jovem.

Quando eram adolescentes, Amanda e a irmã frequentaram uma formação de dois anos na paróquia antes de receberam os sacramentos da iniciação cristã, Batismo, Comunhão e Confirmação (Crisma).

Ao entrar na Universidade de Harvard, em Cambridge, estado do Massachusetts, Amanda, hoje com 22 anos, recebeu uma bolsa de estudos da paróquia. O pároco testemunhou que ela regressava sempre à igreja quando visitava a sua casa.



O poema reflete «o que pregamos aqui em Santa Brígida» sobre a libertação e a redenção, o que também é salientado na música e na arte da paróquia. As suas palavras sobre a unidade tiveram uma forte ligação espiritual, considerou o P. Keke



Hawkins relatou que ficou impressionada desde o início com as irmãs Gorman, por serem intelectualmente e socialmente brilhantes, com personalidades calmas, mas confiantes. Amanda tinha uma deficiência na fala que dificultava a pronúncia de certas letras, que haveria de superar.

Aos 16 anos, Amanda foi distinguida com o prémio de Poetisa Jovem de Los Angeles, e foi nesse tempo que escreveu o poema sobre Santa Brígida, recitado no final de uma missa na qual foi evocado Martin Luther King Jr.

Antes de ler “A colina que subimos”, Amanda apresentou-se ao país e ao mundo diante do Capitólio como uma jovem «negra escanzelada, descendente de escravos e criada por uma mãe solteira», que pode «sonhar tornar-se presidente apenas para se descobrir a recitando por um".

Vencedora do prémio para jovens poetas dos EUA em 2017, Amanda não esqueceu a insurreição que ocorreu no Capitólio duas semanas antes da tomada de posse, mas vincou a necessidade da esperança, com o poema a terminar com uma promessa de renascimento e reconciliação: há sempre luz, se tivermos a coragem de vê-la. Se formos suficientemente corajosos para sê-la.

O poema reflete «o que pregamos aqui em Santa Brígida» sobre a libertação e a redenção, o que também é salientado na música e na arte da paróquia. As suas palavras sobre a unidade tiveram uma forte ligação espiritual, considerou o P. Keke.

A comunidade paroquial planeia celebrar o feito de Amanda, primeiro de maneira simples, tendo em conta as limitações devidas à pandemia, e depois com maior destaque. Mas muitos, fora de Santa Brígida, já estão, de certa forma, a festejar a poetisa, dado que os seus livros depressa chegaram ao topo das listas dos mais vendidos.

«Ela é definitivamente uma luz, uma inspiração para todos nós», apontou Hawkins, vaticinando que Amanda continuará a seguir em frente com coragem, mas não sozinha: «Ela leva Deus com ela».


 

Carol Zimmermann
In Catholic News Service
Trad. / edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 26.01.2021 | Atualizado em 07.10.2023

 

 
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