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Igreja em diálogo

A cultura nunca será uma "guerra", ou deixaria de ser cultura

Com o significado humanista que tem, a palavra e o exercício da cultura supõem aprofundamentos e não precipitações, verdadeiro diálogo e não teimosias, liberdade de todos no acolhimento de cada um. O contrário duma “guerra”, portanto.

Haverá sim e necessariamente lugar para a defesa e promoção de valores, no convencimento lúcido que cada um – indivíduo ou grupo – tenha deles. A Igreja Católica entra na partilha cultural com o entendimento bimilenar que ganhou das palavras e atitudes de Cristo. – O que faria Cristo hoje, ou melhor, o que se há-de fazer no seu Espírito, nas circunstâncias concretas em que se vive?! Cumpre estar do lado da vida, da família, da solidariedade concreta, da justiça, da paz, da inclusão e da salvaguarda da criação… Isto como prática e como pedagogia, como na expressão artística e na cultura em geral.

Com a consciência plena de que, se o Espírito de Cristo não se confina às fronteiras visíveis da Igreja, os que usam o seu nome têm de estar nos primeiros lugares de todas essas frentes, com todos os outros homens e mulheres que prezam os mesmos valores. E com particular incidência na juventude, que mantém uma grande disponibilidade para aderir sem cálculos a tudo quanto for verdadeiro, bom e belo, ainda que compartilhe dum sentimento anti-institucional hoje muito difuso. Mas uma Igreja ao serviço de valores atrai por estes mesmos, que também motivam os crentes. São causas disponíveis, para recomeçar em cada geração, como demonstram tantas acções de voluntariado e espiritualidade levadas a cabo por jovens da Europa e do mundo.

A pós-modernidade retraiu-nos mais na subjectividade e no individualismo, é verdade. “Entende-se” em parte pela falência das ideologias, que prometiam a resolução de todo o tipo de problemas a partir de ideias únicas, impostas a todos. A partir dos anos oitenta do século XX, foram mais difíceis as mobilizações, a não ser para reivindicar precisamente a ruptura com o que foi geracionalmente transmitido e aceite: daí a voga das causas fracturantes, daí a deriva libertária do liberalismo, que não se legitima senão a partir do que cada um queira, sem mais explicações. Acaba por ser uma outra “ideologia” de tipo contra-cultural, que durará ainda. Junta-se naturalmente o prazer imediato como “justificação” e a possibilidade material de o obter como “objectivo”, mesmo a todo o custo. Concomitantemente, o relacionamento virtual via Internet, aparece como mais passível de escolhas sem compromisso.

Estamos de certo modo em tempo de escombros. Mas já se detectam indícios de reconstrução. Gente que “acorda”, que se compromete e procura. A quem parece ter perdido o presente cabe agora anunciar o futuro, o que é também próprio do cristianismo original e disponível.

 

D. Manuel Clemente
Bispo do Porto, presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais
In Diálogo em tempo de escombros, ed. Pedra da Lua
23.05.10


D. Manuel Clemente

































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