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Fé e cultura

Europa: um renascimento cristão?

Em meados de maio, Bento XVI fez uma peregrinação apostólica a Portugal: meio milhão de pessoas esteve na missa em Fátima.

Quando o Papa regressou a Roma, duzentos mil peregrinos encheram a Praça de São Pedro para a recitação dominical do Angelus, manifestando o seu apoio a um pontificado cercado durante meses por críticas sobre abusos do clero e bispos irresponsáveis.

Uma semana mais tarde terminou a exposição de 44 dias do Sudário de Turim na catedral daquela cidade do norte de Itália. Nessas seis semanas, cerca de dois milhões de pessoas enfrentaram longas filas para passar breves momentos diante daquele que muitos acreditam ser o lençol que envolveu o corpo de Cristo no sepulcro.

Aos vários Mark Twain: Será que aos vaticínios da morte do cristianismo na Europa foram exagerados?

FotoBento XVI em Fátima (13.5.2010) (Getty Images)

É uma pergunta pertinente, e tendo eu sido um dos que tocou o alarme sobre uma crise europeia da moral civilizacional desde a publicação de “The Cube and the Cathedral”, em 2005, sinto-me obrigado a responder-lhe.

E a resposta é: ainda é muito cedo para dizer.

A grande massa de peregrinos em Fátima, o entusiasmo no apoio ao Papa num soalheiro dia de primavera em Roma, o extraordinário número de pessoas que viu o Sudário são sinais encorajadores.

Como o é a intensa piedade que continua a ser evidente na Polónia, sobretudo recentemente, depois da trágica morte de alguns líderes nacionais no incidente aéreo do passado mês de abril, quando se dirigiam para a vala comum da floresta de Katyin [a fim de evocar o 70.º aniversário do massacre de milhares de polacos por parte das tropas soviéticas].

FotoBento XVI saudado por milhares de peregrinos em Roma (16.5.2010) (Reuters)

E o mesmo se pode dizer, paradoxalmente, dos ataques virulentos à Igreja e ao Papa nos últimos meses. Ninguém desperdiça as suas energias para atacar uma instituição considerada moribunda e um homem de 83 anos considerado insignificante; os ataques são uma prova de que a fé a cristã – e a Igreja Católica – continuam a ser determinantes na cultura europeia e na vida pública do continente.

Além disso, se a Jornada Mundial da Juventude de 2011, que vai decorrer em Madrid nos dias 16 a 21 de agosto, reunir um milhão ou mais peregrinos, o que parece possível, isso tornar-se-á um desafio lançado ao hiper-secularista governo espanhol de Zapatero e aos filhos da Europa dos anos 60, que podem tolerar o cristianismo como uma escolha pessoal (ainda que a considerem bizarra), mas que insistem no facto de a sociedade europeia do século XXI dever ser libertada de qualquer argumento moral religiosamente inspirado.

FotoFiéis aguardam Bento XVI em Birmingham, Inglaterra (19.9.2010) (Getty Images)

Mas o fator decisivo ocorrerá quando estas demonstrações de convicção e piedade cristãs se tornarem capazes de transformar a cultura, refletindo-se no espaço público. E não é fácil ver algo do género acontecer tão cedo na Europa. O catolicismo europeu não tem as infraestruturas de combate cultural que foram construídas nos Estados Unidos nas últimas décadas. Por exemplo: na Europa não há nada de semelhante à revista “First Things” e ao seu conjunto de autores, cujos ensaios e artigos chamam a atenção de autoridades públicas e académicas, da imprensa e outros colunistas. Não é a minha visão idiossincrática de colaborador de longa data e agora presidente do seu conselho; é o que os meus amigos e colegas europeus me dizem.

Conseguir um envolvimento cultural similar exige muito trabalho e recursos. Acima de tudo, no entanto, exige uma massa crítica de discípulos cristãos radicalmente convertidos, que passaram por momentos como os que o padre Robert Barron, de Chicago, viveu em Turim:

FotoFila para a visita ao Santo Sudário (Turim, 10.4.2010) (Getty Images)

«Tenho de admitir que foi uma mais extraordinárias experiências religiosas da minha vida. As marcas no Sudário – incluindo as manchas de sangue – são claramente visíveis, o que significa que a realidade brutal da Paixão é claramente visível. Olhando fixamente o Sudário, fui vivamente trazido àquele esquálido pequeno monte fora dos muros de Jerusalém no ano 30, quando um jovem foi torturado até à morte.

É então que me centro no rosto daquela figura: aquele rosto pacífico, nobre, estranho, cativante, que expõe, ao mesmo tempo, a profundidade da miséria humana e a plenitude da misericórdia divina. Na face do Deus crucificado está presente todo o drama e toda a poesia da fé cristã, a Resposta que é tudo menos uma resposta fácil, a Palavra que supera a palavra de qualquer filósofo...».

Foto

 

O autor deste artigo, George Weigel, escreveu “Testemunho de Esperança”, biografia de João Paulo II.

 

George Weigel
In Ethics and Public Policy Center
Trad.: rm
© SNPC (trad.) | 10.10.10

Foto
Bento XVI em Fátima, 13.5.2010
Reuters

 

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