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Flannery O'Connor: a beleza e a fé cristã

Conclusão do texto de apresentação de "O tesouro escondido"

VI. A segunda grande face de "O Tesouro Escondido" está na relação (íntima, diga-se) entre fé e beleza. E sobre este ponto gostava de falar de uma escritora que é muito apreciada por Tolentino Mendonça: Flannery O'Connor. Ora, sem o respeito pela fé (não é preciso sentir a fé, não é preciso ser crente; basta conceber a sua existência e não gozar com ela logo à partida) nós não compreendemos a beleza esmagadora de Flannery O'Connor. O nosso "ar do tempo" das cascas de cebola fala muito em O'Connor. Fala da sua beleza bizarra, das suas atmosferas mágicas, como se "O Céu é dos Violentos" fosse uma espécie de realismo mágico aplicado ao sul dos Estados Unidos. Meus amigos, O'Connor não é bizarra ou mágica. O adjetivo a usar é outro: O'Connor é profundamente religiosa. Religiosa. As suas narrativas resultam da sua fé cristã, da sua fé católica. As suas atmosferas asfixiantes nascem daqueles mistérios cristãos, daquele mistério do texto bíblico (aliás, a escrita de O'Connor faz lembrar a escrita da Bíblia). Ou seja, a sua imaginação vem deste mundo espiritual que não se deixa vencer pelas explicações lógicas e científicas. Como diz Tolentino noutro livro (Hipopótamo de Deus), as pessoas "olham com interesse (merecidíssimo, aliás) para uma novela de Flannery O'Connor, desconhecendo, porém, que é no relegado volume de Teillard de Chardin que ela tem a sua chave ".

O nosso "ar do tempo" não consegue estabelecer esta ligação entre a fé de O'Connor e a beleza dos livros de O'Connor, porque está preso naquele cinismo que goza - à partida - com a fé, porque está preso nessa ideia tontinha de que a fé não pode ser sofisticada ou bela. Ante esta máfia do cinismo, ler Tolentino faz bem. Desintoxica.

 

Henrique Raposo
Texto de apresentação do livro "O tesouro escondido", 16.2.2011, Lisboa
In Expresso
18.02.11

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