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Exposição

"Imagens Eloquentes": Arte europeia dos séculos XVIII a XX

Abre ao público a 24 de Junho, feriado concelhio de Moura, no Museu Municipal da cidade, a exposição “Imagens Eloquentes - Arte Europeia dos Séculos XVIII-XX”.

A iniciativa centra-se em torno da "mimesis", princípio fundamental da actividade dos artistas, segundo uma concepção arreigada desde os tempos de Platão e Aristóteles e que percorre a história artística até à explosão da pós-modernidade. Horácio disse-o por outras palavras: “ut pictura poesis” - onde está a pintura, aí está a poesia.

De acordo com o pensamento dos mestres antigos, renovado no apogeu do Classicismo, o artista não é um mero “imitador” da natureza, mas um demiurgo, um criador capaz de fazer surgir, diante dos olhos do observador, a verdadeira realidade.

Existe por isso uma ligação estreita entre arte e retórica, já que o autêntico criador deve saber empolgar, comover e finalmente persuadir os destinatários das suas obras, como faziam os grandes tribunos ao usarem da palavra. A pintura torna-se, deste modo, uma “poesia muda”, mas capaz de apelar convincentemente aos sentimentos mais íntimos de quem a perscruta.

Três focos, denominados “ethos”, “pathos” e “logos” e correspondentes aos três princípios retóricos, servem de fio condutor ao discurso expositivo, agrupando vinte e duas obras, entre pinturas, aguarelas, pastéis e desenhos.

Paisagens rurais e urbanas, retratos, cenas históricas ou de costumes, projectos de design e alegorias mostram como a arte pode ser, apesar de silenciosa, eloquente e repleta de emoções. Estas constantes transparecem logo na peça que serve de bandeira ao percurso, o estudo de um rosto feminino de Louis Hersent, pormenor seguidamente aproveitado pelo pintor num dos seus quadros mais famosos, “Religiosos do Hospício do Mont Saint-Gothard”, encomendado para o rei Luís XVIII de França, em 1828, e hoje no Museu do Louvre.

 

Três séculos de arte

O itinerário sugerido ao visitante começa por abordar o problema da atmosfera afectiva (“ethos”) da obra de arte. A cada ética corresponde uma estética, que pode variar de acordo não só com quem executa essa mesma obra mas também com quem a contempla e interpreta.

O ponto de saída é um idílio do pintor flamengo Petrus Johannes van Reysschoot, característico da época imediatamente anterior à Revolução Francesa. Serve de mote para uma viagem pelo paisagismo italiano e francês da época romântica, com Felice Storelli e Félix Brissot de Warville.

Outras referências oitocentistas abrangem o retrato (Louis-Georges Brillouin) e a pintura religiosa e alegórica (Élie Delaunay, Charles Lameire), voltando à temática bucólica e às cenas de género, já em pleno século XX, com Friedrich-Michael Pfeiffer e Charles Guérin, nomes maiores das escolas muniquense e parisiense, respectivamente.

Feita esta “introdução”, as regras da retórica impunham que o dissertador captasse o público através de uma estudada gama de emoções (“pathos”).

O segundo núcleo aborda as “paixões da alma”, começando pela referida pintura de Hersent, a que se segue uma aguarela de Henri Baron, “Cena da Inquisição” (1860). Em tom realista, Camille Bourget dá a conhecer a miséria das classes populares de Paris com “Tumulto na Rua”, crítica às injustiças da Revolução Industrial.

Após as notas álacres do “flamenco”, em moda nos finais do século XIX (Victor Prouvé), e do teatro crítico da burguesia (August Fricke), uma inquietante paisagem a carvão de Jean Jeanès, “Torre del Diavolo”, põe em confronto a atormentada geologia dos Alpes e a vida humana.

O corolário emotivo é atingido com “Guerra”, de 1918, arte final para uma gravura em madeira do expressionista Max Pechstein, figura de proa dos grupos de artistas que defenderam uma política radical após a derrota da Alemanha na I Grande Guerra e foram perseguidos pelo Nazismo como expoentes da “arte degenerada”.

À emoção sucede a razão, o “Logos”, que está na base da ordem e da beleza e dá o tom para que a imagem fale.

A exposição tira partido do equilíbrio entre modalidades de representação muito diversas. Principia por um projecto de aquário, à maneira neogrega, do arquitecto Karl Friedrich Schinkler, referência maior do Romantismo germânico. O pendor clássico prossegue com uma evocação da toilette de Vénus, de Numa Boucoiran, o pintor de Nîmes.

Um contraponto de uma cena de leitura (Eugène Laveille), ao gosto garrettiano, e do retrato de aparato de um militar do Estado-Maior Alemão na França ocupada em 1916 (Richard Benno Adam), mostra as possibilidades narrativas do género, levando o espectador a soltar a imaginação.

Não menos sedutor é o diálogo entre paisagens do Mediterrâneo (“Na Costa de Espanha”, Louis-Julien Jacottet) e do Atlântico (“Ostende”, de Maxime Lalanne). E, como não podia faltar a alusão à pós-modernidade, uma “Abstracção” de Luigi Guardigli, mestre mosaicista de Ravena que trabalhou em Paris com Léger, Braque e Chagall, fecha o ciclo.

 

Museu de Moura

Remonta a 1884 a primeira tentativa de criação de um museu em Moura, altura em que um grupo de mourenses recolheu espólio arqueológico significativo e manifestou a vontade de o preservar e expor ao público.

Esta intenção só frutificou em 1915, concretizando a ambição daqueles e de outros cidadãos, quando se instituiu a Biblioteca-Museu, que dispunha de secções respeitantes à Pré-história, à época romana e à etnografia.

O esforço para conservar num espaço visitável os achados arqueológicos do concelho foi ao longo dos anos prosseguido por investigadores como o Dr. José Fragoso de Lima ou João da Mouca, fervorosos recolectores de peças que muito engrandeceram mais a colecção já existente, dotando-a de novos pólos.

Em 1993, a Câmara Municipal transferiu os seus fundos museológicos para a Casa do Rato, antigo celeiro comum, o que permitiu dar nova vida ao museu, instituição que tem tido papel decisivo na promoção do conhecimento do património local junto da comunidade concelhia e dos visitantes que, em número crescente, querem conhecer o rico passado de Moura.

Outra vertente deste trabalho prende-se com a dimensão pedagógica, área em que o Museu Municipal se tem especializado e vai contar com desenvolvimentos no âmbito de “Imagens Eloquentes”, além de conferências e visitas guiadas.

Esta mostra resulta da parceria que o Município iniciou em 2002 com o Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, que levou à inauguração, em 2004, do Museu de Arte Sacra, na igreja de São Pedro.

No decurso dos últimos anos intensificou-se a colaboração deste pólo da rede museológica diocesana de Beja com os demais museus da cidade.

A exposição, que mantém as portas abertas até Setembro, é acompanhada pela edição de um catálogo cujos textos correram a cargo de especialistas.

 

ImagemLouis Hersent, Beatitude (1824)

 

Ana Santos / SNPC
© SNPC | 22.06.10

Imagem

 

Ligações e contactos
Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja: 284 32 09 18; dphadb@sapo.pt

 

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