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D. José Policarpo: 13.º volume das "Obras Escolhidas" reflete sobre Igreja, Mistério e Missão

O 13.º volume das “Obras Escolhidas” do cardeal patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, reflete sobre a “Igreja”, “Mistério” e “Missão”.

A obra está dividida em cinco capítulos: Sacerdócio da Igreja, Sacerdócio para a Igreja; Sacerdócio e identificação da Igreja com Cristo; A simplicidade da fé, a densidade da esperança; O Papa visitou-nos; A fé vivida ilumina toda a realidade humana.

Os excertos que se seguem referem-se à introdução e ao texto intitulado “Bento XVI – Cultura e fé”, que contém os tópicos da conferência proferida em Lisboa, no Grémio Literário, a 22.4.2010.

 

Introdução

1. Neste XIII volume de «Obras Escolhidas» publicam-se os textos, referentes ao Ano Pastoral 2009-2010. Foi um ano em que a Igreja foi seriamente interpelada por acontecimentos e propostas do Papa: o Ano Sacerdotal, a visita do Santo Padre à Cidade de Lisboa, o dinamismo desencadeado pela Conferência Episcopal, convidando as dioceses a refletirem em conjunto os novos caminhos da missão, a continuamente necessária iluminação da vida da sociedade pelo Evangelho e pela doutrina da Igreja. Todos estes aspetos sugeriram intervenções do Patriarca de Lisboa, ao ritmo da vida da Igreja e de solicitações concretas que lhe foram feitas. A arrumação dos textos nos diversos capítulos, procura dar-lhes a unidade possível, sem esquecer que as variadas interpelações feitas à Igreja se entrecruzam, porque na resposta a todas elas se evidenciam a exigência e a beleza da vivência da Igreja e a centralidade de Jesus Cristo, princípio e fim da nossa caminhada de fé e da nossa forma de estar no mundo.

2. Daquelas interpelações, duas acabaram por ter maior relevância: o Ano Sacerdotal e a visita do Papa Bento XVI. Elas sugeriram dois modos complementares de afirmação: a exposição doutrinal, que se procurou fazer ao ritmo da Liturgia e o contacto direto com o Sumo Sacerdote da Igreja, o Sucessor de Pedro, que nos fez sentir ao vivo a exigência atual do ministério sacerdotal e a ternura do pastor, sacramento de Cristo, Bom Pastor. Não sentimos, apenas, a sua bondade de pastor, mas também a profundidade do seu magistério, que nos fez ouvir de novo, à luz do acontecimento da sua visita, a palavra do Evangelho e o vasto ensinamento da Igreja. O Papa, entre nós, não foi só palavra, foi acontecimento rico e interpelante que nos ajudou a ouvir, de maneira nova, palavras já ditas e escutadas. Ajudou muitos a identificar na palavra ouvida, a Palavra que Deus nos diz hoje, no momento concreto da nossa vida.

3. O desafio feito às Igrejas de Portugal para encontrarem formas mais evangélicas de ser e de anunciar, aborda temas que é bom retomar na sua atualidade acutilante: o dever de ler continuamente os «sinais dos tempos» e o desafio de uma «nova evangelização». Estes dois desafios interpenetram-se, pois só lendo os «sinais», os cristãos descobrirão a maneira própria de serem testemunhas de Jesus Cristo, nas circunstâncias concretas da vida dos homens. Procurei que as diversas intervenções que me foram pedidas, ao longo do ano, traduzissem este dinamismo e esta perspetiva. Espero que o lugar que ocupam neste volume sublinhe essa unidade fundamental do mistério e da missão da Igreja. O mistério da Igreja é a afirmação da atualidade de Jesus Cristo; a sua missão, tome ela a forma que tomar, é o anúncio de Jesus Cristo, a proclamação da sua centralidade salvífica. É disso que as nossas sociedades secularizadas, demasiadamente centradas no presente deste mundo, precisam: o anúncio de Jesus Cristo através da fé e do testemunho dos cristãos.

 

Bento XVI – Cultura e fé

1. Bento XVI é o Papa, Bispo de Roma e Sucessor de Pedro. A função do Papa na Igreja, seja ele quem for, ultrapassa o horizonte da pessoa, da sua fisionomia e história pessoal. Cada um põe ao serviço desse serviço (ministério), os seus dotes pessoais. No horizonte de dois séculos, de Pio IX para cá, são todos diferentes, personalidades de grande relevo, e que dirigem a Igreja no realismo da sua identidade em cada momento concreto.

2. O ministério do Papa tem a ver com o principal desafio que a Igreja enfrenta desde o início: construir a unidade na pluralidade das diferenças. Este é um desafio global de civilização. A Igreja nesse dinamismo pode ser sinal.

Os pólos dessa construção da unidade, sem anular a diferença, são: a mesma fé; o amor fraterno, aberto ao desafio comunitário; a compreensão comum do existir cristão.

Quando estes pilares da unidade foram quebrados, a diferença transformou-se em cisma.

Presidente do Colégio dos Bispos das diversas Igrejas locais, o Papa é o agente principal dessa unidade na pluralidade.

Este esforço é dinamismo interno da Igreja, independentemente da sua relação com a sociedade, mas repercute-se nela, pois todas as sociedades sentem o desafio da unidade na pluralidade.

Este esforço interno projeta-se no «ecumenismo».

Hoje, põe-se à Igreja um problema difícil que é o de aceitar a diferença das realidades sociais que não integram a Igreja: outras confissões religiosas, as opções do Estado laico. É que a Igreja não está apenas ligada à sua realidade interna, mas também à lei natural.

3. Essas diferenças, na sociedade e também no interior da Igreja, estão ligadas à evolução cultural. Desde o início que o cristianismo se revela com dinamismo para intervir na cultura. A fé tende a transformar-se em cultura e exprime-se em categorias culturais. Desde sempre, o cristianismo não se limita a evangelizar as pessoas, mas também a evangelizar as culturas. Hoje, isso só é possível reconhecendo o dinamismo da mutação cultural e intervindo nele. Porque o ser cristão, em comunidade, envolve necessariamente uma expressão cultural, que implica uma compreensão do homem em comunidade. A fé cristã tem capacidade de se exprimir em todas as culturas (inculturação), e assim influenciá-las.

4. Este processo acontece, com grande intensidade, com a grande expansão do cristianismo no mundo greco-romano, onde pessoas e escolas ousam pensar a fé, em chave cultural e racional.

Na época clássica, o platonismo era reinante, e torna-se espontâneo procurar a maneira filosófica de pensar a fé, o que leva à estruturação de um novo saber que é a Teologia, o pensamento filosófico sobre a fé. Procurar a relação entre a razão e a fé é, assim, congénito ao cristianismo.

5. Esta tensão entre a razão e a fé acompanha a Igreja ao longo de 2000 anos e só resolvendo-a é que a fé ganha dimensão cultural.

Com a introdução no pensamento ocidental do aristotelismo, acentua-se a dimensão lógica da razão. Com a revolução cartesiana e o desenvolvimento das ciências exatas, afunila-se o horizonte da razão. Esta é considerada a única fonte válida do saber e da verdade, e a dimensão religiosa é remetida para o campo do «extrarracional». Kant sistematiza esta perspetiva com a distinção entre a «razão pura» e a «razão prática». Mas muito rapidamente se chega ao ponto em que não é só a fé religiosa que é posta fora do âmbito da racionalidade; é também a beleza e a emoção estética que ela gera, e o conhecimento sapiente que brota da experiência do amor, não percebendo que no amor verdadeiro se aprende mais do que num livro.

Há correntes culturais que pretendem ultrapassar este escolho: aceitam que pode haver uma fé racional num deus a que a razão pode chegar - o Deus da razão - e colocam a busca da expressão da fé no pietismo, emotivo e afetivo, fora da rigidez do saber racional, sem perceberem que o verdadeiro crente nunca pode renunciar à racionalidade da sua fé.

6. No centro desta tensão está a busca da verdade. A razão humana só é construtora da verdade e acolhedora da verdade que chega ao coração do homem com outra origem: o amor, a beleza, a revelação de Deus. Só aceitando que a razão humana que, no processo científico tem um papel importante na busca da verdade, é também acolhedora da verdade, dando-lhe, seja qual for a sua fonte, a nobreza da racionalidade, se resolverá a relação entre a razão e a fé.

Para o cristianismo a verdade é indesligável da beleza e do amor e só este é a fonte da inspiração ética.

7. Este é o campo privilegiado da intervenção cultural de Bento XVI.

 

D. José Policarpo
Cardeal Patriarca de Lisboa
In Obras escolhidas (13.º vol.), Universidade Católica Editora
18.02.11

Capa

Obras escolhidas (13.º vol)

Autor
D. José da Cruz Policarpo

Editora
Universidade Católica Editora

Ano
2010

Páginas
256

Preço
25,00 €

ISBN
978-972-54-0284-9












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