Entre palmas e ramos de oliveira: foi à maneira de Jesus em Jerusalém que o papa entrou hoje em Qaraqosh, considerada a principal cidade cristã do Iraque, quase sete anos depois de ter sido ocupada pelo autodenominado Estado Islâmico, forçando os habitantes a fugir, à imagem do que aconteceu noutros lugares do país.
Antes da invasão, viviam cerca de 50 mil pessoas em Qaraqosh, no vale de Nínive. Após a libertação, em 2016, estima-se que tenham regressado não mais de metade. Mais de 60% das casas foram danificadas, em consequência da guerra.
Francisco, ao longo destes três dias de visita ao Iraque, que termina segunda-feira, vincou a importância dos cristãos para a reconstrução do país, mas as motivações para voltar são escassas: não há trabalho, a vida é difícil para além das distribuições ocasionais de alimentos, os habitantes dizem que as autoridades nacionais e locais não os apoiam.
Papa Francisco | Qaraqosh, Iraque | 7.3.2021 | © Sala de Imprensa da Santa Sé
Papa Francisco | Qaraqosh, Iraque | 7.3.2021 | © Sala de Imprensa da Santa Sé
O papa reuniu-se com a comunidade cristã na catedral da Imaculada Conceição, restaurada o ano passado, depois de ter sido vandalizada, profanada e incendiada. O campanário foi parcialmente derrubado, as estátuas decapitadas, mobiliário, registos e livros sagrados lançados para a fogueira, pátio e coro usados como campo de tiro.
Ao chegar, Francisco encontrou uma nova imagem da Virgem - «aqui a sua estátua foi danificada e espezinhada, mas o rosto da Mãe de Deus continua a olhar-nos com ternura», diria momentos depois –. o campanário restaurado, as paredes e as colunas foram limpas. E um precioso manuscrito, que remonta ao século XIV, foi poupado às milícias islâmicas, levado para Itália, onde foi restaurado durante um ano, e hoje regressou ao seu lugar, em Qaraqosh.
«Contemplando-vos, vejo a diversidade cultural e religiosa do povo de Qaraqosh, e isto mostra algo da beleza que a vossa região tem para oferecer ao futuro. A vossa presença aqui lembra que a beleza não é monocromática, mas resplandece pela variedade e as diferenças»: a diversidade, fora e dentro da Igreja, sempre no coração e nas palavras do papa. A ela voltaria, poucos minutos a seguir.
Papa Francisco | Qaraqosh, Iraque | 7.3.2021 | © Sala de Imprensa da Santa Sé
Papa Francisco | Qaraqosh, Iraque | 7.3.2021 | © Sala de Imprensa da Santa Sé
Depois de frisar que «o terrorismo e a morte nunca têm a última palavra», Francisco sublinhou que «este é o momento de restaurar não só os edifícios, mas também e em primeiro lugar os laços que unem comunidades e famílias, jovens e idosos».
A reconstrução humana requer alicerces feitos de «perdão»: «O caminho para uma cura plena poderia ainda ser longo, mas peço-vos, por favor, que não desanimeis. É preciso capacidade de perdoar e, ao mesmo tempo, coragem de lutar. Sei que isto é muito difícil. Mas acreditamos que Deus pode trazer a paz a esta terra. Confiamos nele e, unidos a todas as pessoas de boa vontade, dizemos “não” ao terrorismo e à instrumentalização da religião».
«Não nos cansemos de rezar pela conversão dos corações e pelo triunfo duma cultura da vida, da reconciliação e do amor fraterno, no respeito pelas diferenças, pelas diversas tradições religiosas, no esforço por construir um futuro de unidade e colaboração entre todas as pessoas de boa vontade», assinalou.
Papa Francisco | Qaraqosh, Iraque | 7.3.2021 | © Sala de Imprensa da Santa Sé
Papa Francisco | Qaraqosh, Iraque | 7.3.2021 | © Sala de Imprensa da Santa Sé
Na véspera do Dia Internacional da Mulher, Francisco agradeceu «a todas as mães e mulheres» do Iraque, «mulheres corajosas que continuam a dar vida não obstante os abusos e as feridas». E lançou um apelo: «Que as mulheres sejam respeitadas e protegidas! Que lhes sejam dadas atenção e oportunidades».
Após o encontro, o papa viajou para Erbil, onde presidiu à missa. Pelas 15h10 (mais três horas no Iraque) regressa a Bagdade, onde pernoita. A cerimónia de despedida está programada para as 6h20 de segunda-feira, prevendo-se para as 11h55 a chegada a Roma.