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A arte de consolar

O regime tecnológico hoje em vigor confunde-nos ainda mais enquanto nos transmite a ilusão de que não há lugar para o erro. A memória do computador mais recente embaraça-nos, ao confrontar-nos com a sequência dos nossos esquecimentos, lapsos, imprecisões.

Onde nós reconhecemos perdas e reduções de eficácia, constatamos na técnica atual exatamente o contrário: uma capacidade inumana de acumulação de dados, registos e pegadas que, muitos anos depois, permanecem intactos numa praia que o oceano não elimina. Os computadores não precisam de ser consolados, nós sim, e falar disso faz-nos bem.

O que é específico da consolação é tornar-nos próximos uns dos outros – e de nós próprios: isso é o suficiente, sem a pretensão de nada, simplesmente dando abrigo, com a nossa presença, à passagem das horas, ajudando assim a carregar o peso que ciclicamente faz desmoronar a vida.

Acompanhar a solidão dos outros e a nossa: “cum-solatio” significa também isto. Com efeito, damo-nos gradualmente conta, ao longo do caminho, que o programa existencial que devemos abraçar não é tanto ir contra as contingências que inevitavelmente nos assediam, mas vivermos juntos, aceitando a tarefa de construir uma humilde sabedoria integradora.

Esta coisa que chamamos vida exige-nos a força de não sucumbir, ao crepúsculo, só porque não vemos como poderá, na escuridão mais cerrada, irromper a aurora.


 

D. José Tolentino Mendonça
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: Eugene Sergeev/Bigstock.com
Publicado em 18.06.2019

 

 
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