Como havemos, então, de contribuir no plano cultural para a irradiação do valor divino do humano?
Quando marca presença na cultura, a inspiração cristã não conduz aos não-lugares da saturada sobremodernidade. Antes abre caminhos para onde se faz a "morada" - lugar dinâmico onde a experiência estética ganha dimensão ética e espiritual.
Na melhor tradição humanista de diálogo entre identidades abertas, pomos a mente e a sensibilidade a ir ao encontro das formas simbólicas com que o outro entende, figura e aumenta o mundo.
Se os humanistas dos alvores da modernidade levavam no baú de viagem as suas polianteias e margueritas, que lhes antologiavam saberes e artes, também nós temos de trazer connosco os signos da atenção ao que o conhecimento e a criatividade do outro vem doando ao mundo.
Mas saberemos evitar o que José Gil chama a «não-inscrição» num tempo de repetição e de adiamento?
Sobram razões para o mesmo filósofo denunciar esta grave inércia no espaço público: «No plano artístico e cultural, os portugueses não têm uma escala de valores para aferir o que é e o que não é importante».
Eis aí um desafio à presença inconformista da nossa aberta identidade católica: oferecer às acções intelectuais e artísticas dos nossos dias um eco criterioso e uma possibilidade de efeito.
Texto redigido segundo o anterior Acordo Ortográfico.
José Carlos Seabra Pereira